quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Reparação (Atonement)

Reparação (Atonement)

Autor: Ian McEwan

Editora Companhia das Letras, 2002, 456 páginas

A história sobre uma família da aristocracia inglesa durante a Segunda Guerra Mundial de McEwan a primeira vista pode parecer um livro tradicional, que conta somente uma história (muito bem contada, por exemplo), mas à medida que as páginas se vão diante dos olhos do leitor e nosso conhecimento sobre aquelas vidas vai se aprofundado, percebemos que não estamos diante de uma obra literária qualquer, mas de um livro em que o autor brinca com a linguagem literária e manipula o intelecto e as emoções do leitor.

Briony Tallis é uma garotinha de onze anos, mimada e com uma imaginação acima da média, o que a impulsiona a escrever histórias fantásticas e peças para sua família além de torná-la uma ávida observadora do comportamento de todos ao seu redor. Num dia quente de verão de 1935 ela presencia três fatos estranhos envolvendo sua irmã Cecilia e o filho da empregada Robbie que a deixam chocada e com um julgamento sobre Robbie equivocado. Mas tarde, depois do jantar, quando um crime acontece, ela é levada a acreditar que Robbie é o culpado, o que atesta em depoimento. Sua decisão muda a vida do casal, e em conseqüência a sua, quando anos mais tarde, durante a Guerra, percebe o terrível erro que cometeu e tenta repará-lo.

O que mais me atraiu na escrita de McEwan é sua análise psicológica e emocional profunda dos personagens. Suas descrições dos pensamentos e motivações são muito marcantes e coerentes. O que é mais evidenciado ainda pelo fato de temos a oportunidade de presenciarmos o mesmo acontecimento por vários pontos de vista diferentes. Dá uma perspectiva completamente nova à história e humaniza todos os seus personagens, sem criar vilões ou mocinhos, apenas pessoas comuns sujeitas a errar ou acertar.

O livro poderia se tornar apenas uma viagem emocional desinteressante na mente dos personagens através de seus infortúnios, mas a habilidade narrativa de McEwan prende a atenção do leitor a cada página como eu poucas vezes fiquei preso a um livro. E a jornada que percorri lendo o livro foi, como alguns podem pensar, não apenas racional devido ao uso não-convencional da linguagem literária, mas foi também emocional, visto que me envolvi com os personagens, me importei com eles e sofri com suas deventuras.

Reparação é leitura super recomendada.

P.S.: Existe um filme de 2007 chamado Desejo e Reparação dirigido por Joe Wright que captura a essência da obra de McEwan e é arte à altura do livro.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A felicidade não se compra (It’s a wonderful life)

A felicidade não se compra (It’s a wonderful life) – EUA – 1946

Direção: Frank Capra

Roteiro: Philip Van Doren Stern e Frances Goodrich

De tempos em tempos algum cineasta competente realiza um filme do tipo, como eu costumo dizer, “sobre a vida”. Um filme que trata do sentido de nossas existências e do porque de estarmos aqui neste mundo, e o que realmente importa aqui. Bons exemplos desses filmes sobre “a vida” são Contato (1997), As Horas (2002), Ao amanhecer (2007), Um sonho de liberdade (1994), entre outros. E agora que vi este fantástico A felicidade não se compra de Frank Capra o coloco no topo da lista.

George Bailey (James Stewart) é um homem que nunca quis seguir a carreira de banqueiro do seu pai. Ele queria sair de sua pequena cidade Bedford Falls para conhecer o mundo. Porém, por causa da necessidade de todos a seu redor devido a opressão causada pelo manipulador Sr. Potter que possuía quase todos os negócios da cidade e explorava os moradores, George se viu na obrigação de ajudar aquelas pessoas com seu banco e seu esquema de empréstimo para construção da casa própria. Por isso ele nunca conseguiu realizar o seu sonho, até que pensou em se matar por causa de uma dívida adquirida por acidente. Foi quando recebeu uma mãozinha de um anjo que veio do céu para ajudá-lo com o objetivo de ganhar sua promoção e suas asas.

Capra desenvolve a história com um tom muito leve e descontraído, como um ótimo “filme de Natal”, mas isso não significa que a narrativa não tenha seus momentos tensos e dramáticos. Os personagens são trabalhados com muito cuidado pelo roteiro, sem que nenhum deles se torne uma caricatura ou desumano, e sim pessoas comuns, com qualidades e defeitos e com facetas diferentes em suas personalidades, passíveis de mudança. Assim o amadurecimento de George ao longo da história com sua mudança de paradigmas e de sentido que dava à vida é completamente convincente. Principalmente com a ajuda do anjo da guarda atrapalhado que tem.

Valores profundos como amizade, amor, família e lealdade são passados de forma muito coesa e sem soar como liçõezinhas de fim de filmes hollywoodianos. Quando o anjo mostra a George como seria o mundo se ele não tivesse nascido, não tem como não se emocionar e aprender algo muito simples e profundo a respeito da existência: a nossa vida influencia outras pessoas tão intensamente e em tantos níveis diferentes.

A felicidade não se compra é um dos melhores Christmas movie de todos os tempos. Deve contar no currículo de todos que gostam de Cinema, da vida e de se emocionar com boas histórias.

Nota: 10

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Atividade Paranormal 2 (Paranormal Activity 2)

Atividade Paranormal 2 (Paranormal Activity 2) – EUA – 2010

Direção: Tod Williams

Roteiro: Michael R. Perry

Os acontecimentos desse novo Atividade Paranormal 2 se passam antes do período narrado no primeiro filme, sucesso de bilheteria e bastante eficiente como filme de suspense e terror. Kristi e sua família voltam de férias e encontram sua casa revirada como se tivesse sido invadida por um ladrão, mas nenhum objeto foi roubado, com exceção de um colar que sua irmã Katie (do primeiro filme) tinha dado de presente e as portas não tinham sido arrombadas. Assustados com o fato de ter sua casa invadida, o casal resolve colocar câmeras de segurança por toda a casa que gravam 24 horas por dia tudo que acontece. Depois disso, os moradores da casa começam a notar coisas entranhas acontecendo na casa, encaradas primeiramente com ceticismo por Daniel, marido de Kristi, mas que depois se tornam sérias demais para serem ignoradas.

Essa continuação assume a mesma lógica do primeiro, mostrando as atividades causadas pelo espírito maligno de forma bem gradativa, causando assim uma tensão crescente. E a direção de Williams é muito eficiente em assustar a platéia e causar medo. Assim, quando vemos certa personagem ser arrastada pelo espírito para o porão, sabemos o mal que aquilo representa. E a atuação do elenco é bastante eficiente, dando veracidade àquelas pessoas comuns que se vêem envolvidas em algo sobrenatural que não conseguem combater.

O roteiro só erra um pouco em deixar o ritmo cair nos primeiros 40 minutos de projeção, deixando a história se tornar um tanto monótona pela falta de acontecimentos, sempre mostrando as imagens das câmeras de segurança em que nada acontece. Mas acerta em explicar e dar mais complexidade ao primeiro filme.

Não sendo muito original em relação ao primeiro, essa continuação nunca deixa de surpreender. E faz também muito bom uso da câmera subjetiva introduzida nos filmes de terror através do ótimo A Bruxa de Blair. A seqüência final é de tirar o fôlego.

Nota: 7