quarta-feira, 18 de abril de 2012

Titanic em 3D. É mesmo necessário?

Não gosto da ideia de converter filmes rodados em 2D para 3D. A linguagem 3D é relativamente nova, mas uma coisa já é muito clara: ela mudou conceitos básicos na concepção estética dos filmes. Como exemplo com relação ao campo e contra campo e a predominância de planos abertos no 3D em detrimento de planos fechados, só para citar alguns. A conversão de filmes para 3D só tem servido como uma muleta comercial, para atrair mais público. Pessoas (acredite ou não, eu já vi isto acontecer) chegam à bilheteria do cinema e perguntam “quero o ingresso do filme em 3D que está passando”... Enfim, esta pessoa em questão, que é uma fatia considerável do público, ignora completamente a obra que está prestes a assistir e encara o cinema como um simples entretenimento rápido e relativamente barato, algo que se assemelha a um parque de diversões, talvez. Coisa que acho absurda.

Cinema é sim entretenimento. E se um dia deixar de ser vai perder totalmente a graça. Mas antes disso é Arte, e transmite conceitos, ideias, emociona a audiência entre outras coisas. Isso nos leva aos relançamentos de grandes blockbusters em 3D, como Star Wars – Ameaça Fantasma e Titanic. É de se esperar que as duas trilogias completas de George Lucas sejam lançadas novamente no cinema em 3D e também há boatos de que O Senhor dos Anéis irá pelo mesmo caminho. Assisti à Ameaça Fantasma e Titanic convertidos, mas não pelo fato de achar relevante vê-los assim, mas sim por simplesmente aproveitar a oportunidade para ver ou rever esses longas na telona. Porém um fato permanece: se um filme foi concebido em 2D, ele deve ser exibido em 2D, não em 3D. Alguns falam que isso é mutilar a obra original, o que de certa forma eu concordo, mas acho também o uso do termo um pouco exagerado.

Voltando ao filme... Titanic se tornou tão popular que hoje em dia é comum encontrar pessoas que gostam de odiá-lo pelo simples prazer de ser diferente de todo o resto do mundo que ama o filme. Mas negar a qualidade do filme é algo que acho patético. A história de amor, mesmo sendo um tanto clichê (rapaz pobre se apaixona por moça rica), é contada de forma incrível por James Cameron. Todos os quadjuvantes têm seu momento em cena bem aproveitado e têm sua importância. O que poderia ser simplesmente um filme sobre um naufrágio, é um filme sobre pessoas, que emociona do início ao fim, e por isso se faz importante. Sem contar em todo o avanço em tecnologia de efeitos visuais que Cameron desenvolveu e trouxe para a indústria cinematográfica com o filme.

Confesso que assistir ao longa no cinema (acredite, eu só tinha visto em casa) foi incrível. O 3D é simbólico. Mas pela primeira vez chorei e passei um bom tempo depois da sessão pensando no que eu acabara de ver e na experiência cinematográfica que James Cameron proporcionou.

Fiquei muito feliz em ver a sala de Cinema cheia. Isso significa, como minha amiga Daniele disse, que o filme tem algo, independente do que os haters hoje em dia falem. Mas em um ponto eu tenho que concordar com os haters: agente podia ter passado sem a música da Celine Dion.

O Poderoso Chefão

Autor: Mario Puzo

Edições Best Bolso, 2011. 655 páginas.

Eu vou lhe fazer uma proposta que ele não poderá recusar.” Essa frase icônica resume bem o centro da narrativa de O Poderoso Chefão, de Mario Puzo. Don Corleone pode ser considerado um gênio da estratégia e dos relacionamentos interpessoais. Acompanhar no livro a trajetória de sua família e seus amigos na luta por manter a hegemonia sobre a máfia (palavra que eles nunca usam, trocando-a por Família) de Nova York foi uma experiência muito interessante e um estudo de personagens incrível.

Falar do livro sem falar da trilogia dirigida por Francis Ford Coppola é impossível. Puzo e Coppola adaptaram para o cinema a saga dos Corleone de forma mais bem sucedida e substancial do que o livro. Os filmes abrangem um ciclo que começa com Vito Corleone e se fecha com Michael seu filho de forma brilhante (como já escrevi nos textos sobre a Parte 1, 2 e 3). O livro não se preocupa em fechar esse ciclo, e às vezes assume uma cronologia não linear, que pra mim não tem muito propósito narrativo, chegando até a atrapalhar em alguns momentos.

Um exemplo dessa falta de linearidade é quando certo personagem é baleado na rua pelos seus inimigos e só tomamos conhecimento do fato através de um parente seu que lê a manchete no jornal, para só depois Puzo descrever o incidente com detalhes. Não sei se foi porque eu já conhecia a história profundamente, mas essa falta de linearidade não causou nenhum impacto em mim. Somente soou como uma estética literária um pouco sem propósito. Outro ponto que me incomodou um pouco foi o excesso de atenção que Puzo dedica a personagens secundários, que na minha opinião não mereciam muito destaque e tantas páginas. Um desses exemplos é Johnny Fontane, a celebridade de Hollywood pertencente à Família. Puzo gasta vários capítulos com ele, seu primo a quem o próprio ajuda e à sua ex esposa e filhas. Esse arco narrativo rende até alguns momentos interessantes, mas nada que contribua muito para o desenvolvimento da história da Família Corleone em si, soando como um filler no livro.

Excluindo as partes desnecessárias e mal construídas, o livro é um estudo incrível de personagens. Don Vito Corleone é uma das figuras mais complexas e interessantes da literatura/cinema. O seu poder de influência nas várias camadas da sociedade, política e economia é impressionante. Eu pude compreender melhor como eram os planos de ação e as estratégias de Don Vito lendo o livro. Puzo dedica muito tempo a isso, coisa que eu gostei muito. Como ele estabelecia seu poder e sua influência através das relações pessoais e o respeito por aqueles da sua Família. Logo nas primeiras páginas já temos ideia dos princípios e da lógica de Don Vito. Bonasera pede sua ajuda, mas Don Vito o lembra do fato que ele não o respeita como pessoa. Ele apenas quer vingança e quer usar o poder de Don Vito para isso. Ele nunca “pediu para o Don ser padrinho de seus filhos” e nunca o “convidou para ir a sua casa como um amigo...”. Entendemos os princípios com que o Don governa os seus familiares e amigos.

Mesmo sendo um homem criminoso e cruel, matando quando se faz necessário, Don Vito obedece ao seu próprio código de conduta e caráter, considerando uma desonra agir fora de seus princípios. Até mesmo o centro da narrativa, que é a resistência da Família Corleone com relação às outras Cinco Famílias para entrar no tráfico de narcóticos exemplifica isso. A justificativa de Don Vito para sua relutância é que esse tráfico “destruirá as famílias”.

Quando Michael assume a liderança da Família logos após Sonny, percebemos como Don Vito e todo o seu conhecimento do sistema e sua sabedoria fazem falta. Chegamos até a temer seriamente pelo futuro da Família e o seu equilíbrio. Mesmo ela resistindo às outras cinco Famílias, eles preservarão a mesma integridade de antes, sob o domínio de Don Vito?

A escrita de Puzo é muito fluída e prende a atenção. Mesmo nas partes que considerei “menos interessantes”, como disse antes, não deixaram de me atrair de um modo ou de outro. Todo o universo criado por ele e os personagens são muito cativantes e instigantes. O livro nunca é chato. Os arcos narrativos se completam e se desenvolvem com muita inteligência. O estado emocional e psicológico do qual Michael começa no início da história e até onde ele chega ao fim é incrível. Ele e Don Vito são de fato os protagonistas.

Outra parte que me tocou muito foi conhecer o passado do Don Vito na Cicília e o início de sua vida na América. O segundo filme mostra isso, mas não com a riqueza de detalhes do livro. Foi inesperado e muito prazeroso acompanhar a sua jornada e sua transformação no homem que já conhecíamos.

Ler o livro só me fez admirar mais o trabalho de Puzo e Coppola no Cinema e me apaixonar mais pela história e os personagens.

Nota: 8,0

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A better life (Idem)

A better life (Idem) – EUA

Direção: Chris Weitz

Roteiro: Eric Eason e Roger L. Smith

A Better life é a prova de que o roteiro cinematográfico é tão importante quanto à direção. Se isso não fosse verdade, seria impossível que o mesmo diretor que dirigiu o vergonhoso Lua Nova (New Moon – 2009) fosse responsável por esse ótimo A better life. É calor que o diretor pode ter amadurecido e aprendido com o tempo e experiência, mas não foi o caso, visto que Lua nova é do recente ano de 2009. O roteiro de A better life é de fato muito sólido, os personagens são bem definidos e a história sabe aonde quer chegar e o que quer provar para a audiência. A direção de Chris Weitz simplesmente pega o material original e transforma num filme tocante.

Carlos Galindo (Demián Bichir) é um imigrante mexicano que vive ilegalmente nos Estados Unidos com seu filho. Ele trabalha para outro compatriota mexicano prestando serviços de jardinagem. Quando seu chefe consegue juntar dinheiro suficiente para voltar para seu país, Carlos decide pegar dinheiro emprestado com sua irmã para comprar a caminhonete de seu chefe. A caminhonete é roubada; ele tenta recuperá-la ao mesmo tempo em que tem que lidar com seu filho rebelde prestes a entrar para a gang local e ainda tenta escapar da Polícia dos Estados Unidos para não ser deportado, e se ver obrigado a viver longe de seu filho.

Com essa premissa que poderia levar o filme a ser um dramalhão digno de uma novela mexicana, Weitz escapa disso e adota a sensibilidade como guia para contar sua história. Desde os primeiro momentos vamos tomando conhecimento da rotina de Carlos no trabalho e seu relacionamento complicado com seu filho; tudo com pequenos acontecimentos e poucos diálogos. Para isso, o desempenho de Demián Bichir e José Julián como seu filho são incríveis e imprescindíveis. O primeiro consegue mostrar que cada coisa que faz durante o seu dia é dedicada ao seu objetivo de dar uma vida melhor ao sue filho. Mas ao mesmo tempo todo o seu esforço de trabalhar muitas horas por dia o faz passar pouco tempo ao lado do garoto, o que nos leva a performance de José Julián. O garoto Luiz vivido por ele é irritante na maior parte do tempo por causa do seu desprezo com o pai e sua tendência à rebeldia e criminalidade. É muito claro para todos nós, expectadores da história, que tudo que Carlos fazia era para o bem de seu filho, menos para o próprio garoto. Mas ele não é só um adolescente rebelde sem causa. Ao longo da projeção percebemos que o que Luiz queria era passar tempo com seu pai assim como eles passavam em sua infância e ter um pouco de sua atenção. Na conversa final do terceiro ato do longa isso fica bem claro. Senti-me muito tocado. Fez-me pensar que quase todos os pais são assim: mesmo cometendo erros, como qualquer ser humano, no fundo eles sempre querem o melhor para seus filhos.

Outro momento que me tocou muito foi quando Luiz pergunta a seu pai durante uma feira frequentada por mexicanos “por que todas essas pessoas pobres e imigrantes ilegais têm filhos?”. O olhar de decepção e mágoa nos olhos de Carlos expressam tudo o que ele sentia. Mais tarde ele tem a oportunidade de explicar a Luiz o seu motivo de ter um filho.

A trilha sonora do sempre talentoso Alexandre Desplat pontua a história de forma discreta e bem colocada. A música não chama atenção para si, como em muitas produções, mas está ali, nos momentos certos na medida certa.

A better life faz com que aqueles que assistiram à história de Carlos e Luiz em forma de arte passem a olhar o mundo e as pessoas de forma um pouco diferente. Afinal, não é esse o objetivo de toda arte?

Nota: 9,0

terça-feira, 10 de abril de 2012

Cavalo de Guerra (War Horse)

Cavalo de Guerra (War Horse) – EUA/Reino Unido – 2011

Direção: Steven Spielberg

Roteiro: Lee Hall e Richard Curtis, baseado no livro homônimo de Michael Morpurgo

Quem bom que no ano passado Spielberg lançou o ótimo As aventuras de TinTim, porque se seu prestígio como artista dependesse somente desse fraco Cavalo de Guerra, ele estaria seriamente comprometido. O diretor apostou todas as suas fichas no seu drama de guerra, visto que das duas últimas vezes em que fez isso com A lista de Schindler e O regate do soldado Ryan, foi bem sucedido com o público, crítica e premiações (dois Oscar’s de melhor diretor).

Cavalo de Guerra conta a história do cavalo do título, Joey, que é comprado num momento de insanidade por Ted Narracott (Peter Mullan) um fazendeiro alcoólatra. Seu filho Albert (Jeremy Irvine) se encanta pelo cavalo desde o primeiro momento que o vê. Ele passa a se dedicar a cuidar do animal e ensiná-lo a arar a terra para tentar salvar a fazenda do seu pai e o futuro de sua família, mesmo Joey não sendo apropriado para o serviço. Com a plantação arruinada por uma tempestade, Ted é obrigado a vender o cavalo para que este seja usado na Primeira Guerra que acaba de começar. Albert promete a Joey que irá procura-lo e trazê-lo de volta para casa. É aí então que acompanhamos a história de Joey e os vários donos por quem ele passa e seus infortúnios durante a guerra.

Centrar a narrativa em um animal é algo perigoso. Animais são inexpressivos e não falam. Quando o roteiro é raso e a direção de Spielberg é genérica o resultado é pior ainda. Um dos maiores erros que um diretor pode cometer, e que Spielberg tem a ligeira tendência a fazer, é tentar manipular a audiência. Se uma história emociona, faz rir ou assusta, isso tem que acontecer de forma honesta e porque a história possui essa força naturalmente e os elementos do filme (direção, atuação, etc) possuem autenticidade. Spielberg tenta fazer o expectador vir às lágrimas o tempo todo, com cenas que às vezes beiram o melodrama. E é aí que a trilha de John William colabora para o fracasso. Ele tenta criar temas engraçadinhos ou dramáticos de forma completamente forçada. Fiquei me perguntando onde estava o gênio que criou os temas de Star Wars, Indiana Jones, Contatos imediatos de Terceiro Grau, Memórias de uma Gueixa, Harry Potter, Star Wars e de tantos outros filmes? Cavalo de guerra não possui uma única melodia marcante, apenas algumas que chegam a irritar.

Mesmo sendo irregular, consegui me envolver em alguns momentos da história, principalmente no terceiro ato do longa, afinal Spielberg não é qualquer diretor. Um momento específico envolvendo uma cerca me tirou o fôlego. Elogios devem ser dados à parte técnica do longa. A fotografia é linda e tem função na narrativa, o que é mais importante. São extremamente diferentes os momentos cheios de cores vivas que mostram Albert feliz em sua fazenda com seu cavalo e os momentos quase sem cor alguma na Guerra, dentro das trincheiras e nos momentos de batalha. A direção de arte recria a Inglaterra da década de 10 de forma impressionante.

Como a maioria de filmes como animais, Spielberg não conseguiu escapar do vício de criar cenas nas quais a câmera mostra a reação “engraçadinha” dos animais à determinadas gags cômicas, coisa que me incomoda profundamente. O filme não exigia tal coisa, sendo mais coerente em uma comédia pastelão. Pense que se talvez o roteiro se concentrasse em Albert e sua busca pelo seu cavalo durante a Guerra, a história seria mais interessante. Acompanhar Joey e seus vários donos assumiu um caráter episódico, o que para um filme é fatal. E os donos de Joey não passam de caricaturas, não seres humanos com personalidade e complexidade. Isto é claro devido à falta de tempo para desenvolvê-los. A amizade de Joey e outro cavalo que se tornou seu “companheiro” não convence muito. Porque afinal de contas uma amizade do tipo como foi retratada (entre dois animais) todos sabem que é impossível de acontecer, por mais valoroso que seja o cavalo. E nem o enorme afeto de Albert por seu cavalo fica muito bem explicado pra mim. Mesmo amando a animal, não vejo tantos motivos para ele ter levado sua busca até as últimas consequências.

No fim, fazendo uma referência vazia e desnecessária à E o vento levou, Spielberg tenta sua última cartada em fazer o público chorar. Comigo não funcionou.

Nota: 6,5

domingo, 8 de abril de 2012

Prazer estendido

Sei que a declaração que estou prestes a fazer é vergonhosa, mas tenho que fazê-la. Somente esse ano eu vi a versão estendida da trilogia O Senhor dos Anéis, já lançada há bastante tempo por Peter Jackson. A verdade é que eu nunca tive o interesse de procurar ou o tempo, mas acho que foi falta de cuidado mesmo, por achar que essas cenas a mais, que eu não imaginava que eram tantas, em nada acrescentariam à obra original lançada nos cinemas. Mas eu não poderia estar mais errado.
Essas versões acrescentam em média em torno de trinta minutos a cada filme, sendo um pouco mais do terceiro, que tem um total de quatro horas de duração (uau!). Somando tudo, dá mais ou menos uma hora e meia a mais de filme para a trilogia. Por fim, fiquei me perguntando: como não pensei em ver isso antes?! Visto que sou muito fã dos livros, que considero um dos meus favoritos e o mundo considera um dos mais influentes do século passado, e também amo muito os filmes e o trabalho de Peter Jackson. Para mim, Tolkien e Jackson são gênios em suas respectivas artes.
Quando assistia às versões de cinema da trilogia, sempre me lembrava de fatos que existiam no livro, mas não no filme, mas nunca tinha pensado que Jackson na verdade tinha filmado muitos deles, mas que por motivos óbvios de cortes do estúdio e de decisão de Jackson também (poucas pessoas vão querer assistir um filme de 4 horas de duração), haviam sido excluídos na edição final.
Para citar alguns desses fatos que mais me emocionaram ou chamaram a minha atenção: a introdução sobre os hobbites e seu modo de vida presente no prefácio do livro, as cenas extras em Minas Mória, os presente de Galadriel para a sociedade, os detalhes do convívio de Merry e Pippin com Barbárvore, a preferência de Lord Denethor pelo filho Boromir ao invés de Faramir mostrada com cuidado em uma linda seqüência, a conversa da Sociedade com Saruman derrotado (me lembro que no livro existe um capítulo só para isso), as cenas extras da jornada de Frodo e Sam em Mordor, as desventuras de Aragorn, Legolas e Gimli nas Sendas dos mortos, os takes incríveis da batalha nos portões de Gondor, o relacionamento de Faramir e Eowyn nas Casas de Cura, e muitos outros. Praticamente todas as seqüências sofreram cortes, e para aqueles que já viram muitas vezes a versão de cinema, fica fácil identificar até mesmo um único frame diferente.
Confesso que para muitos, a versão mais curta já parecia muito longa, o que de fato é. Então assistir a versão entendida de algo que já era longo pode parecer uma idéia absurda. Creio que a versão mais longa seja só para os fortes. Brincadeiras a parte, para os fãs da obra como eu, uma hora e meia a mais da Terra Média acompanhando uma história tão incrível com personagens que aprendemos a amar não parece tão má idéia assim.
Deixa eu fica mas um pouco na Terra Média?”. (Frodo Bolseiro para Gandalf)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Fúria de Tirãs 2 (Wrath of the Titans)

Fúria de Tirãs 2 (Wrath of the Titans) – EUA – 2012

Direção: Jonathan Lieberman

Roteiro: Basil Iwanyk e Polly Cohen Johnsen

Depois do remake já fraco, porém sucesso de bilheteria Fúria de Titãs em 2010, o estúdio teve o mal gosto de realizar esse Fúria de Titãs 2, ainda mais apagado que o original.

O enredo do filme gira em torno de uma crise que acontece com o mundo dos deuses, visto que os humanos não oram mais por eles (assumindo que a oração na Grécia antiga era da forma que é para os cristãos nos dias de hoje). Enfraquecidos pela falta de crença dos humanos, os deuses são subjugados por Cronos, que libera os titãs sobre o mundo dos humanos e tenta tomar o poder absoluto entre os deuses, capturando Zeus (Liam Neeson). É aí que entra em ação Perseu (Sam Worthington), protagonista do longa de 2010. Dez anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, Perseu leva uma vida normal criando seu filho em uma vila e trabalhando como pescador. Perseu se compadece de seu pai e parte numa missão de resgate.

Nem mesmo uma missão tão nobre como a de Perseu, resgatar o pai, consegue sustentar a narrativa nas duas horas de filme. Perseu não era próximo de seu pai e não nos importamos com o destino dos dois e muito menos com o sucesso da jornada, que deveria ser a veia central do filme. Nem mesmo a relação de Perseu com seu filho, que deveria servir de contraponto para a relação de Perseu e Zeus, não exibe força nenhuma. E no caminho, Perseu conhece a bela Andrômeda (Rosamund Pike), que desde o primeiro momento em que os dois se entreolham, temos a plena certeza que ela se tornará o interesse romântico do herói ao longo do filme. A relação dos dois é artificial, o que faz com que o inevitável beijo no fim da projeção seja sem graça e óbvio.

É difícil entender a motivação de cada personagem se ela existe. Excetuando a de Perseu, que é resgatar seu distante pai, são rasos os motivos de cada um para estar naquela jornada. Esse erro é fatal para o sucesso da produção, uma vez que a morte de qualquer um dos personagens não acarretaria em quase nenhuma reação no expectador. Não a que deveria causar pelo menos. O único alívio fica por conta de Agenor (Toby Kebbell), que tem um personagem ligeiramente divertido e um pouco interessante. Fiquei curioso para saber um pouco mais de sua história.

Sam Worthington se apresentou como uma surpresa agradável em Avatar (2009). Aqui ele não pode fazer muito com seu personagem vazio num enredo furado. Perseu é inexpressivo e não cativa como deveria. O resto do elenco de encontra na mesma situação. Inclusive os sempre talentosos Ralph Fiennes e Liam Neeson. E foi difícil não pensar no Lord Valdemort de Harry Potter ao ver Fiennes em cena. Afinal, foram muitos anos no papel. O que tem acontecido com Hollywood? Remakes sem graça têm sido produzidos um após o outro e atores talentosos têm se entregado a projetos medíocres. Enfim...

Não entendo muito de mitologia grega, mas o pouco conhecimento que tenho me permite dizer que Fúria de titãs 2 faz uma miscelânea dos elementos da mitologia e o resultado não é muito bom. Se o drama e a ação ainda funcionassem, seria um pouco mais perdoável devassar toda a cultura antiga de um país, mas não é o caso.

A direção de Jonathan Lieberman é obvia e não tem nada de novo, chegando mesmo a beirar o ruim em algumas cenas, como aquela dentro do labirinto que supostamente deveria ser quase impossível de ser transposto. A sequência é confusa, a câmera fica trêmula e trepidante o tempo todo, os cortes são rápidos demais, impedindo que qualquer um entenda o que acontece na tela, e por fim, depois de muitas paredes andarem de um lado para o outro, o chão de mover e buracos serem abertos, sem mais nem menos eles chegam ao centro, onde supostamente era impossível de se alcançar. O uso do 3D não apresenta nada de novo para a linguagem, servindo apenas como uma muleta para atrais mais bilheteria.

O primeiro filme 2010 merecia ser visto por se tratar de um remake de um filme que se tornou cult. Deste eu não posso dizer nem isso.

Nota: 4,0

terça-feira, 3 de abril de 2012

Millenium – Os homens que não amavam as mulheres

Millenium – Os homens que não amavam as mulheres

Autor: Stieg Larsson

Editora Companhia das Letras, 2008 – 522 páginas

Foi com empolgação que comecei a ler o incrível Millenium – Os homens que não amavam as mulheres depois de ver no ano passado o tão incrível filme baseado no livro, dirigido por David Fincher. Logo nos primeiros capítulos eu percebi o que atraiu Fincher e o levou a trazer o material (já filmado na Suécia) para as telas e o que transformou o a trilogia Millenium em best seller. A escrita de Stieg Larsson é intrigante, inteligente e muito criativa. E acima de tudo honesta com o leitor, contando a história (muito boa) de forma bem estruturada e clara sem o uso de ferramentas (muletas, pode-se dizer) que tentam prender a atenção dos leitores, como faz Dan Brown, e que acabam por disfarçar uma história fraca.

Eu nunca imaginaria que o mundo do jornalismo econômico investigativo pudesse ser tão interessante e ao mesmo tempo tão rico, rendendo situações dramáticas muito intensas e conflitos morais e éticos tão bem trabalhados por Larsson, sem em momento nenhum pender para o moralismo, o que seria tão fácil de acontecer, ou soar monótono.

Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander são personagens riquíssimos e muito interessantes. O tempo todo o leitor se encontra curioso para saber qual será o próximo passo de cada um, visto que as mentes investigativas dos dois trabalham de forma tão parecida e ao mesmo tempo tão diferentes, levando a investigação do assassinato de Harriet Vanger, que é o centro da narrativa, em cada capítulo a ótimas reviravoltas. A pesquisa a cada momento fica mais instigante. A narrativa é muito bem amarrada do início ao fim. Mesmo sendo complexa, cheia de personagens, muitos fatos e mudanças de foco ao longo do tempo, o leitor acompanha sempre com clareza tudo o que ocorre, e entende cada passo e movimento da dupla de protagonistas.

Muitos podem confundir Millenium – Os homens que não amavam as mulheres com uma história do tipo “quem é o assassino”, a exemplo dos livros de Agatha Christie, mas Millenium é muito mais do que isso. Como já disse, é focado no mundo do jornalismo investigativo econômico e de fato se aprofunda muito no assunto. Mas ao mesmo tempo acompanhamos a investigação do desaparecimento de Harriet que ocorreu a quarenta anos atrás e que tem um número considerável de suspeitos na família Vanger, e principalmente é um incrível estudo de personagens. Ao fim do livro me senti conhecendo profundamente Mikael e Lisbeth e também a enorme galeria de quadjuvantes de maior ou menor importância. E é aí que Larsson mostra seu talento. Com poucos parágrafos que seja que ele dedique a alguém, ele consegue traçar uma análise profunda da personalidade e caráter do mesmo. Sem muitos floreios, com simples fatos que ocorrem, conversas e pensamentos descritos. 

Estou ansioso par ler os outros dois títulos da trilogia e por que não, vê-los no cinema também. Dirigidos por David Fincher, é claro.