Reparação (Atonement)
Autor: Ian McEwan
Editora Companhia das Letras, 2002, 456 páginas
A história sobre uma família da aristocracia inglesa durante a Segunda Guerra Mundial de McEwan a primeira vista pode parecer um livro tradicional, que conta somente uma história (muito bem contada, por exemplo), mas à medida que as páginas se vão diante dos olhos do leitor e nosso conhecimento sobre aquelas vidas vai se aprofundado, percebemos que não estamos diante de uma obra literária qualquer, mas de um livro em que o autor brinca com a linguagem literária e manipula o intelecto e as emoções do leitor.
Briony Tallis é uma garotinha de onze anos, mimada e com uma imaginação acima da média, o que a impulsiona a escrever histórias fantásticas e peças para sua família além de torná-la uma ávida observadora do comportamento de todos ao seu redor. Num dia quente de verão de 1935 ela presencia três fatos estranhos envolvendo sua irmã Cecilia e o filho da empregada Robbie que a deixam chocada e com um julgamento sobre Robbie equivocado. Mas tarde, depois do jantar, quando um crime acontece, ela é levada a acreditar que Robbie é o culpado, o que atesta em depoimento. Sua decisão muda a vida do casal, e em conseqüência a sua, quando anos mais tarde, durante a Guerra, percebe o terrível erro que cometeu e tenta repará-lo.
O que mais me atraiu na escrita de McEwan é sua análise psicológica e emocional profunda dos personagens. Suas descrições dos pensamentos e motivações são muito marcantes e coerentes. O que é mais evidenciado ainda pelo fato de temos a oportunidade de presenciarmos o mesmo acontecimento por vários pontos de vista diferentes. Dá uma perspectiva completamente nova à história e humaniza todos os seus personagens, sem criar vilões ou mocinhos, apenas pessoas comuns sujeitas a errar ou acertar.
O livro poderia se tornar apenas uma viagem emocional desinteressante na mente dos personagens através de seus infortúnios, mas a habilidade narrativa de McEwan prende a atenção do leitor a cada página como eu poucas vezes fiquei preso a um livro. E a jornada que percorri lendo o livro foi, como alguns podem pensar, não apenas racional devido ao uso não-convencional da linguagem literária, mas foi também emocional, visto que me envolvi com os personagens, me importei com eles e sofri com suas deventuras.
Reparação é leitura super recomendada.
P.S.: Existe um filme de 2007 chamado Desejo e Reparação dirigido por Joe Wright que captura a essência da obra de McEwan e é arte à altura do livro.