segunda-feira, 5 de novembro de 2012

007 – Operação Skyfall (Skyfall)


007 – Operação Skyfall (Skyfall) - Reino Unido

Direção: Sam Mendes

Roteiro: Neal Puvis, Robet Wade e John Logan

A decisão de escolher Daniel Craig para encarnar o mais famoso agente do Cinema dividiu opiniões. A minha sempre foi positiva. Acho que ele trouxe outra dinâmica ao personagem, bem diferente do seu antecessor, Pierce Brosnan. Craig nunca sorri, exala masculinidade e virilidade, e apresenta uma energia incrível nas cenas de ação. Sem mencionar seu carisma e talento na pele do agente. Depois do ótimo Casino Royale e do fraco Quantum of Solace, a franquia recupera o fôlego com esse excelente Skyfall.

Sam Mendes, experiente diretor de dramas ambiciosos como Beleza Americana, Estrada para perdição e Foi apenas um sonho, traz outra abordagem para o universo de Bond. Mendes investe mais no desenvolvimento dos personagens e nos relacionamentos entre eles, deixando um pouco de lado as sequências de ação ininterruptas. Não que o filme não possua ação. Muito pelo contrário. Já começa com uma sequência incrível envolvendo Bond, as ruas da Turquia, um HD que precisa ser recuperado e um trem. A ação continua com o tom mais realista e com edição e direção mais cruas, como nos dois longas anteriores, mas tem os seus toques de exagero e coisas “impossíveis” sendo realizados por Bond que de forma alguma afetam o filme. Apenas assumem o charme que a série sempre teve. Afinal, ele é o James Bond e já estamos acostumados a vê-lo fazendo coisas improváveis na tela. Depois dessa sequência, mergulhamos (literalmente) numa maravilhosa abertura gráfica, como é de costume na série, embalada pela excelente canção Skyfall.

O roteiro dá mais destaque ao relacionamento de Bond com M (a sempre soberba Judi Dench), o que traz uma dinâmica interessante ao longa, e faz com que possamos entender melhor o funcionamento da misteriosa agência MI6. Dado como morto, Bond se apresenta à M depois que a base do MI6 sofre um violento atentado terrorista. Depois de uma investigação mais minuciosa, descobre-se que o autor do atentado conhece o MI6 melhor do que eles esperavam. Bond é então enviado por M para descobrir a identidade do autor do atentado e recuperar o HD roubado, mesmo ela sabendo que Bond não se encontra fisicamente apto para a tarefa.

Mendes prova que pode sim dirigir um filme de ação com competência, e não somente dramas. Ele mantém o ritmo da narrativa sempre ágil e prende o interesse do expectador. É muito frequente acontecer em filmes de ação/espionagem não ficar muito claro para o expectador a complexa rede de interesses dos personagens, as reviravoltas da trama e os objetivos de cada um. Mas isso felizmente não acontece com Skyfall, graças à direção competente de Mendes e o roteiro sólido e bem escrito. Tomando a decisão de dar mais importância aos personagens e seus relacionamentos, Mendes acerta em cheio, mas ainda assim mostra que é versátil e pode dirigir sequências de ação como um diretor experiente no gênero, ou até melhor. Diferente de Michael Bay e outros do tipo, que apostam na câmera que treme o tempo todo e nos cortes com frações de segundo para conferir um tom de “ação frenética” que muitos gostam, mas que pra mim é um erro, Medes aposta na direção limpa e edição sem cortes muito rápidos. Decisão sábia. Eu consegui entender, acompanhar perfeitamente e me emocionar com a ação que ocorria na tela, o que é um feito digno de nota.

A trilha sonora pontua perfeitamente a narrativa. Toda vez que o tema clássico da séria surge, não tem como evitar a empolgação de antecipar a ação que está por vir. A direção de arte e os efeitos visuais são, como sempre se pode esperar da franquia, incríveis e eficientes.

Elogios devem ser feitos à atuação original e divertida de Javier Bardem como o vilão Raoul Silva. De longe um dos vilões mais memoráveis da série, Raoul impõe medo e respeito toda vez que aparece em tela, e sua dinâmica com Bond é imprescindível para nos convencer de suas motivações. Ele oscila entre o débil, o lascivo, genial e extremamente perigoso e desequilibrado. Seu diálogo com Bond é hipnotizante. Prova de que estamos assistindo ao trabalho de dois atores talentosos.

O longa não tem de fato uma bond girl como os anteriores, mas que não fez muita falta também. O centro da narrativa foi Bond versus M, Bond versus Raoul e Bond versus ele mesmo, o que já era coisa demais para o 007 lidar.

Espero que a série continue nesse mesmo nível de qualidade narrativa e dramática, se não ela corre o risco de se tornar apenas uma franquia de filmes de ação genéricos com um protagonista de nome famoso.


Nota: 9