domingo, 28 de fevereiro de 2010

Desejo e perigo (Se, Jie)

Desejo e perigo (Se, Jie) – China/EUA/Taiwan – 2007 *****

Direção: Ang Lee

Roteiro: James Schamus e Wang Hui-Ling, baseado no romance de Eileen Chang

Depois do ótimo O Segredo de Brokeback Mountain, Ang Lee resolve retratar mais uma história de amor impossível e com a mesma qualidade daquele, neste Desejo e Perigo. Wang (Wei Tang) é uma jovem e bela chinesa que entra na faculdade durante o período de ocupação japonesa na 2ª Guerra Mundial. Entrando em um grupo de teatro patriótico ela acaba se vendo envolvida no meio de revolucionários que têm o plano de assassinar o Sr. Yee (Tony Leung Chiu Wai), um colaborador do lado japonês. É então quando Wang assume uma identidade falsa com o nome de Mak de uma esposa de mercador com o objetivo de se tornar amante de Yee para facilitar a ação do grupo. Envolvida em uma teia de paixão, violência e sentimentos confusos, Wang não sabe mais distinguir o que é realidade daquela relação e os seus objetivos políticos e patrióticos. Lee conduz a história com o habitual talento de intensidade, como mostrado antes em Brokeback Mountain e também no maravilhoso O tigre e o dragão. É realmente surpreendente o que ele faz com as cenas de sexo, que são muito mais do que simplesmente podem aparentar. Cada uma delas vai revelando os tipos de laços e a profundidade da relação que o casal vai estabelecendo ao longo da história, servindo para desenvolver o enredo como qualquer diálogo mais profundo. Coisa difícil de ver no cinema. Lee também retrata com pessimismo os ideais políticos defendidos pelas pessoas que permeiam o filme, mostrando a degradação dos mesmos devido a interesses pessoais. E demonstra mais pessimismo ainda em relação às relações humanas, como a amizade falsa entre as mulheres fúteis e sem engajamento político daquela sociedade, a falta de profundidade da monotonia que o casamento traz e até mesmo a melancolia de uma relação baseada em sexo. E tudo isso demonstrado com muita sutileza e talento pelo excelente roteiro baseado no livro supostamente autobiográfico de Eileen Chang e na direção firme e sensível de Lee. Outro destaque fica por conta da atuação do casal principal, que demonstram completa entrega aos personagens e à história, sem medo de se mostrarem vulneráveis, com uma intensidade enorme nas performances, mesmo que baseadas em sutilezas de interpretação. A direção de arte e os figurinos não são nada menos do que perfeitos. A trilha sonora, apesar de econômica na maior parte do tempo, é grandiosa quando deve ser e emociona. Por fim, é só correr para a locadora mais próxima e assistir a esse maravilhoso drama do mestre Ang Lee.