sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 (Idem)

Tropa de Elite 2 (Idem) – Brasil – 2010

Direção: José Padilha

Roteiro: Bráulio Mantovani

Muitos anos depois dos acontecimentos narrados no excelente primeiro filme de 2007, Capitão Nascimento (Wagner Moura) agora, depois de ser tirado do comando do BOPE devido a uma invasão mal sucedida em Bangu Um, passa a ocupar o cargo de sub-secretário de segurança do Rio de Janeiro e enfrentar outro inimigo, como diz o subtítulo: os políticos. Ele descobre um esquema de corrupção nas milícias da polícia militar nas favelas apoiado pelo governador e por deputados. Ao mesmo tempo Nascimento tem que lidar com problemas com seu filho adolescente e sua ex-esposa, casada com um deputado defensor dos direitos humanos.

O primeiro filme já era muito eficiente em abordar a luta do BOPE contra o tráfico de drogas nos morros do Rio. Mas o roteiro deste segundo vai mais fundo no problema social e político da cidade. Capitão Nascimento se vê envolvido em um esquema muito maior do que ele imaginava. O “Sistema” como ele mesmo diz. As milícias da PM extorquindo os moradores da favela, o dinheiro da corrupção sustentando campanhas políticas, deputados corruptos e assassinos, jornalistas assassinados e outras injustiças que afetam a população e os líderes honestos em vários níveis.

E se o roteiro é brilhante em abordar todas as facetas da corrupção do sistema, também acerta em investir no impacto emocional desse sistema na vida daquelas pessoas. Capitão Nascimento não consegue manter nenhum tipo de relacionamento pessoal mais profundo, visto que já tinha perdido seu casamento e agora não consegue manter seu filho por perto, o que o afeta profundamente. E até mesmo seu amigo Matias o considera um traidor. E a performance de Wagner Moura se mostra essencial para o sucesso do filme. Sem exibir um único sorriso ao longo de todo o filme, Nascimento é um homem totalmente dedicado ao seu trabalho e à causa por que luta. Ele carrega em seu próprio rosto o peso da vida que leva. E não só Moura se sai bem, do elenco. Todos oferecem performances muito intensas e eficientes.

E além de um roteiro complexo e profundo, ainda sobre tempo para as seqüências de ação, muito bem realizadas por Padilha e sua equipe. A cena de invasão da favela pelo BOPE é impressionante. A realização estética (movimentos de câmera e enquadramentos) e a montagem são dignos de qualquer filme da trilogia Bourne.

Aliás, o cuidado visual de Padilha com o filme é muito maior neste longa do que no de 2007. Sua câmera se mantém sempre trêmula durante os diálogos, mostrando a instabilidade daquelas vidas e trazendo um tom documental do filme, filmando as cenas mais simples e introspectivas com apenas uma câmera, que acompanha os personagens aonde eles vão. E o plano final impressiona pela qualidade e significado. Durante o depoimento do Capitão Nascimento na CPI, a câmera sai de um plano fechado no seu rosto e vai se afastando no salão num traveling pra trás que mostra todos os políticos no salão e os civis no fundo. Mostra como ele, Nascimento, apenas um indivíduo, estava envolvido em algo muito maior do que ele próprio.

O impacto social e emocional do filme ficam na mente depois que os créditos sobem na tela. Tropa de Elite 2 é um filme que deve ser visto, discutido e divulgado. Além de ótimo entretenimento e recheado de bordões e ótimos diálogos como o primeiro filme, tem grande importância política e social. Fico feliz em saber que a bilheteria já é umas das maiores de um filme nacional.

Nota: 10

terça-feira, 26 de outubro de 2010

À espera de um milagre (The Green mile)

À espera de um milagre (The Green mile) - EUA - 1999


Direção: Frank Darabont


Roteiro: Frank Darabont, baseado no livro de Stephen King


John Coffey (Michael Clarke Duncan) é um homem negro, pobre, com mais de dois metros de altura condenado à morte pelo estupro e assassinato de duas meninas em 1935. Na cadeia à espera da sentença, ele conhece Paul Edgecomb (Tom Hanks), começa uma amizade e ambos acabam se ajudando, em grande parte devido ao miraculoso poder de cura de John, que ajuda Paul com sua séria infecção urinária e também porque um ajuda o outro a crescer enquanto pessoa. Diante disso, o policial Paul decide investigar a fundo o assassinato das garotas, por acreditar que John não é culpado, e ao mesmo tempo, arquiteta um plano para ajudar a esposa de seu melhor amigo que está com um tumor no cérebro a ser curada por John.



Depois de dirigir o maravilhoso Um sonho de liberdade em 1994, também baseado em um livro de Stephen King, Frank Darabont mais uma vez adapta uma obra de King com um resultado muito interessante. A história possui a mesma intensidade emocional do longa de 1994, conseguindo contar uma história forte, mesmo com seu tom fantasioso e sobrenatural, nunca deixamos de nos importar com os seus personagens e com as situações por que passam. A injustiça à que John está submetido, a falta de caráter e odiosidade do oficial protegido, a luta de um homem para salvar sua esposa, a jornada emocional e de crescimento pessoal pela qual Paul passa, o companheirismo de seus amigos, e um tema distante pra nós, mas que traz muita reflexão para nossa existência: a imortalidade e o que ela representaria para os seres humanos. Existem esses e tantos outros arcos dramáticos no longa, todos intensos e muito bem desenvolvidos.


As performances de Hanks e Duncan são o fio condutor da narrativa. O primeiro, intenso e extremamente talentoso, consegue exprimir sentimentos e reações apenas com os olhos. Duncan, por sua vez, encarna John com uma inocência e senso de caridade impressionantes. Ver um homem de dois metros de altura chorando compulsivamente poderia soar ridículo, mas não é. Os momentos em que John surge na tela são sempre ternos e sensíveis. É inevitável a simpatia imediata com o personagem. Todo o elenco quadjuvante tem seus momentos em tela e se sai muito bem.


Pra quem se interessa pelas adaptações cinematográficas das obras de Stephen King, vale conferir também, além deste À espera de um milagre e Um sonho de liberdade, O Nevoeiro de 2009, também dirigido por Frank Darabont.


Nota: 9

A queda - as últimas horas de Hitler (Der Untergang)

A queda - as últimas horas de Hitler (Der Untergang) – Alemanha/Itália – 2004

Direção: Oliver Hirschbiegel

Roteiro: Bernd Eichinger, baseado no livro de Joachim Fest

Os russos tomam Berlim em abril de 1945 deixando o exército alemão em pânico. Mesmo sabendo que a derrota está próxima, Hitler (Bruno Ganz) e seus principais assessores planejam ações militares para eliminar o inimigo. O Führer está assustado, Eva Braun, sua namorada e depois esposa mantém a moral em alta dançando e cantando com os oficiais. Goebbels e sua mulher trazem os seis filhos na esperança de um milagre. O 3º Reich está com as horas contadas. A história é contada do ponto de vista da nova secretária do Führer, Traudl Junge (Alexandra Maria Lara), uma jovem de Munique, de 22 anos, alheia a ideais políticos, apenas feliz por estar servindo ao grande líder.

A roteiro de Eichinger e a direção de Hirschbiegel acertam por apostarem na sensibilidade emocional da história, além dos ideais políticos. O fato de grande parte do longa ser visto do ponto de vista da inocente Traudl colabora ainda mais para o impacto emocional do filme. A sua falta de engajamento político e até mesmo ingenuidade diante dos fatos que presenciava fazem com que sua personagem ganhe nossa simpatia, e ao mesmo tempo faz com que Hitler se torne humano aos nossos olhos, mesmo conhecendo toda sua história. E é aí que se destacam as performances do maravilhoso elenco. Bruno Ganz encarna Hitler com uma força e profundidade impressionantes, fazendo com que os momentos em que Hitler explode devido a sua situação crítica e às notícias que chegam sejam impressionantes e dignos de medo, e também os momentos em que ele exibe sua humanidade e até mesmo temor diante do inevitável. E acima de tudo, sua inabalável fidelidade aos seus ideais políticos, mesmo sendo abomináveis aos nossos olhos, sua firmeza até o fim é admirável.

O filme conta com um elenco de apoio admirável, ótimos figurinos e direção de arte que recriam os anos 40 de forma muito convincente. A fotografia e o cuidado de Hirschbiegel com a estética do filme também são impressionantes.

Todos esses adjetivos fazem com que A queda - as últimas horas de Hitler seja um filme importante do ponto de vista político e social e emocionalmente impactante.

Nota: 10

domingo, 3 de outubro de 2010

Orgulho e Preconceito (Minissérie da BBC – 1995)

Direção: Simon Langton

Roteiro: Andrew Davies

Quem me conhece sabe da minha admiração pela obra da inglesa Jane Austen e o meu interesse nas adaptações cinematográficas ou televisivas de seus livros. Especialmente sua obra prima Orgulho e Preconceito.

Meu primeiro contato com a história de ódio e amor de Mr. Darcy e Elizabeth Bennet foi ao assistir o soberbo filme de 2005 dirigido por Joe Wright. Depois disso, comprei o livro e li. Em seguida, assisti ao filme mais algumas vezes, o que só fez crescer minha admiração pelo trabalho de Wright e sua equipe. Agora, acabo de assistir a cultuada minissérie de 1995 estrelada por Colin Firth e Jennifer Ehle. Achava que não ia gostar tanto quanto o filme, mas fiquei muito surpreso positivamente com o que vi, e comparações tornam-se desnecessárias, visto que o Cinema e a TV são mídias tão diferentes e exigem tratamentos do material original também diferentes.

O maior feito da minissérie e também do filme de 2005 foi conseguir capturar a alma e o tom exatos do livro de Austen, considerada a primeira romancista inglesa moderna. O livro, ao abordar a história de pessoas simples e comuns, com suas desventuras cotidianas em suas vidas sem sentido é uma grande crítica a sociedade e aos costumes da época. O humor é perspicaz, a construção dos relacionamentos muito bem estabelecida de forma racional, diferente do Romantismo e a análise e desenvolvimento da personalidade dos personagens é brilhante. Austen era uma grande observadora, como dizem.

Para os jovens rapazes em posse de uma boa fortuna, sua única preocupação na vida era administrar seu dinheiro herdado e conseguir uma boa esposa. Para as jovens moças, seu único propósito era encontrar esses rapazes. E para algumas mães, como no caso da hilária Sra. Bennet, conseguir casar suas cinco filhas solteiras. É em torno disso que Austen desenvolve sua história através do ponto de vista feminino (e porque não dizer feminista?), mostrando o pouco poder de escolha que as mulheres tinham na época, e como a felicidade no amor dependia tão pouco da vontade de suas heroínas.

A direção de arte da minissérie é impecável, com cenários maravilhosos e muito bem decorados com ótima reconstrução de época. As locações são incríveis (nunca vou me esquecer dos campos de Pemberley) e figurinos excelentes. A trilha sonora capta perfeitamente o espírito da Inglaterra Vitoriana. E não tem como falar das atuações de todo talentoso elenco, principalmente do casal protagonista. Firth e Ehle são os perfeitos Mr. Darcy e Elisabeth, sempre expressivos, carismáticos e convincentes.

O roteiro se mantém muito fiel ao livro e se desenvolve de forma fluída. A direção de Langton é impressionante, fazendo com que, às vezes, eu me esquecesse que estava assistindo a uma minissérie e não a um filme, com seus movimentos de câmera elegantes e inventivos (surpreendentes para uma produção televisiva) e sua agilidade em contar a história, sem deixar o ritmo e o interesse do espectador diminuirem em momento algum.

Por fim, a minissérie é uma obra de arte à altura da obra de Jane Austen. Como disse à minha irmã Natália: “Eu gostaria de ter eternos episódios semanais com essa qualidade artística sobre a vida daquelas pessoas para poder acompanhar. Seria ótimo.”

Nota: 10