segunda-feira, 31 de maio de 2010

E o vento levou (Gone with the Wind)

E o vento levou (Gone with the Wind) – EUA – 1939

Direção: Victor Fleming

Roteiro: Sidney Howard, baseado no livro de Margaret Mitchell

Considerado o clássico eterno de Hollywood, E o vento levou é envolto em uma atmosfera épica desde a sua produção, que passou na mão de três diretores por conta do gênio difícil do produtor David O. Selznick, tinha o roteiro escrito e alterado todos os dias no set de filmagem, Selznick realizou um processo de seleção da atriz que interpretaria Scarlett O’Hara que envolveu todo o país até a sua tão aguardada estréia, figurando até hoje como o filme que mais vendeu bilhetes do mundo (Avatar arrecadou mais em dinheiro, mas não em número de bilhetes), a história de uma mulher em meio à Guerra Civil americana tocou platéias no mundo todo e continua com a mesma força até os dias atuais.

Scarlett O’Hara (Vivien Leigh) é uma moça sulista dos Estados Unidos da metade do século XIX, vivendo com sua família em Tara, fazenda de sua pai irlandês, com todo o conforto que sua posição social e a riqueza pode proporcionar. Em um churrasco que reúne toda a alta sociedade da região, Scarlett descobre duas coisas: que Ashley (Leslie Howard) o rapaz por quem se interessa vai se casar com sua amiga Melanie, e que o país acaba de entrar em Guerra Civil, o norte contra o sul. Neste mesmo dia conhece Rhett Butler (Clark Gable), aquele que viria a ser a única personalidade capaz de desafiá-la à altura durante toda a sua vida. A partir daí, acompanhamos toda a trajetória de Scarlett em meio às suas desilusões amorosas, sua luta por sobrevivência, sua paixão secreta por Ashley casado com sua amiga, tudo isso tendo como cenário a Guerra Civil Americana.

O filme é um épico em todos os sentidos, como nunca tinha sido feito entes em Hollywood. A fotografia é em cores (a primeira da história do Cinema em cores), os planos e enquadramentos de câmera são belíssimos e grandiosos, os figurinos exuberantes, a trilha sonora marcante e que evoca a grandiosidade da história que está sendo contada, as atuações são teatrais, é claro, devido a época em que o filme foi feito, mas magistrais ao mesmo tempo. Não consigo imaginar outro ator interpretando Rhett Butler além de Gable com seu charme, humor e vivacidade ou outra Scarlett além de Vivien Leigh, sensual, impulsiva, manipuladora e acima de tudo, forte e determinada.

O filme é na verdade sobre ela, Scarlett. Uma garota sulista normal, avessa aos assuntos de guerra, cuja ameaça considerava apenas um transtorno para seus planos de namoro e suas atividades diárias, como descobrimos na primeira cena em que conversa com os gêmeos. E é essa postura que ela assume durante toda a história, nunca se importando com a causa da guerra de que tantos falam, desejando que essa estúpida Guerra acabasse logo para que seu amado Ashley voltasse para casa o mais rápido possível. Mas isso não a impedia de ser forte e ter um instinto de sobrevivência maior do que a maioria a seu redor, incluindo sua amiga Melanie. Uma das cenas mais fortes e bem realizadas de fato exprime isso. Melanie entra em trabalho de parto no momento em que os yankes invadem a cidade em que elas estão. Desesperada por um médico, Scarlet vai ao hospital chamar o doutor com quem já trabalhou. Chegando, descobre que os sulistas perderam a batalha e existem centenas de feridos para serem cuidados. Esse é um dos planos mais marcantes do filme, em que a câmera na grua vai se afastando de Scarlett num traveling que sobe e mostra toda a área onde se espalham as centenas de mortos e feridos. Conseguimos ver a grandiosidade os eventos nos quais Scarlet estava envolvida ao mesmo tempo em que os desprezava por motivações pessoais.

Aliás, a personalidade de Scarlett é desenvolvida ao longo das quase quatro horas de filme. A performance de Vivien Leigh é arrebatadora, com um tom teatral (Leigh era atriz de teatro antes do filme) e novelesca. Scarlet é egoísta, impetuosa, sensual, determinada e acima de tudo forte. Sem contar em seus outros adjetivos. Passa por problemas como a morte de entes queridos, três casamentos sem amor, uma guerra civil, passa fome e é obrigada a reerguer a família, mas ainda assim não desiste de lutar. Sempre motivada por seu amor por Ashley. A força de Scarlett é demonstrada brilhantemente por uma frase repetida por ela várias vezes ao longo do filme: “vou pensar sobre isso amanha...”. Toda a poder de sua personalidade pode ser resumida por essa máxima, que ela carrega consigo e na qual se sustenta diante das adversidades. Ela não desiste, só espera para pensar com clareza no seu próximo passo.

Recheado de momentos inesquecíveis como o que Scarlet se encontra com o médico onde os feridos se encontram, temos ainda a cena lendária em que ela promete que nunca mais passará fome debaixo do por do sol em Tara e ao som da trilha de Max Steiner, a cena do parto de Melanie, o incêndio em Atlanta, a conversa final entre Scarlett e Rhett, entre outras. O filme é um épico em todos os sentidos da palavra.

Muitos filmes, por brilhantes que sejam e por maior que seja sua representação na história da Sétima Arte acabam envelhecendo, por talvez servirem apenas para a época em que foram feitos. Não é o que acontece com E o vento levou. O filme continua causando o mesmo impacto setenta anos depois de seu lançamento. Isso acontece pelo fato de abordar assuntos atemporais como a guerra, sempre presente entre os seres humanos, e os seres humanos em si e suas paixões, motivações, defeitos e qualidades.

Quem levou o crédito de toda a direção foi Victor Fleming, responsável pelo excelente O Mágico de Oz. Mas o filme, que foi dirigido oficialmente por três diretores, pode dizer-se que foi dirigido por quatro. O quarto foi o próprio produtor David. O Selznick. Este demitiu os outros dois primeiros diretores por diferenças criativas e problemas pessoais. Quem deu toda a forma ao filme de fato foi Fleming. A história de quase quatro horas soa por vezes cansativa, mas ele consegue desenvolver todos os arcos dramáticos e imprimir força e profundidade à história. Mesmo às vezes não simpatizando muito com Scarlet, nos importamos com seu destino e o dos outros personagens. Todos são humanos.

Já assisti ao longa três vezes e não me considero em muitas condições de escrever sobre. Apenas quero prestar minha homenagem a esta obra de arte que faz parte da minha vida e de muitas outras pessoas.

PS.: Todas as vezes que vi, não consigo parar de pensar em como seria assisti-lo no cinema e testemunhar o impacto que causou na época em que foi lançado. Mas é só uma divagação de um cinéfilo.

Nota: 10

terça-feira, 18 de maio de 2010

Janela Indiscreta (Rear window)

Janela Indiscreta (Rear window) – EUA – 1954

Direção: Alfred Hitchcock

Roteiro: John Michael Hayes, baseado na história de Cornell Woorich

Quanto mais vejo os filmes de Alfred Hitchcock, mais me torno seu fã. Depois de assistir Psicose, Um corpo que cai, Intriga internacional, Rebecca, Quando fala o coração e Festim diabólico, Janela indiscreta só veio para comprovar ainda mais a genialidade de mestre do suspense.

A história do filme, resumidamente é sobre voyerismo. Conhecemos Jeff (James Stewart), fotógrafo que quebra a perna e é obrigado a passar todo o seu tempo em casa. Ocioso, ele passa todo o dia observando com um binóculo a rotina dos seus visinhos em Greenwich VIllage, quando testemunha fatos estranhos que o levam a acreditar na ocorrência de um assassinato.

Com talento na direção, como de costume, Hitchcock consegue com apenas um diálogo entre Jeff e sua namorada Lisa (Grace Kelly, linda) estabelecer toda a dinâmica do casal. E com relação a seus vizinhos, sem diálogo nenhum, apenas observando suas atividades diárias e os acontecimentos de suas casas, conseguimos saber muito sobre suas personalidades. Como exemplo, temos a dançarina de balé fútil, cobiçada pelos homens e que gosta de se exibir; temos a solteirona solitária que organiza jantares a dois e come sozinha conversando com o ar, O casal recém casado que passa o dia todo de cortinas fechadas para não ter sua privacidade invadida (algo que é alvo de piadas recorrentes ao longo do filme); o casal em crise que briga constantemente, o professor de piano que se empenha em compor algo, etc. Todos os personagens observados por Jeff e por nós tem algo peculiar que faz com que o ato de assistir suas vidas seja interessante. Isso prova o que Hitchcock disse; que sempre colocava em seus filmes assuntos que causavam algum sentimento nele. Seja medo ou qualquer outro tipo. É razoável pensar isso no caso do voyerismo, porque qualquer ser humano se sente inclinado a vigiar a vida alheia. Os valores morais da sociedade é que muitas vezes impedem. A maior prova disso são os reality shows que se proliferam dia após dia sem dar indício que vão acabar. Parece que Hitchcock previu isso cinqüenta anos antes.

As atuações são ótimas. James Stewart é um ótimo Jeff, com seu cinismo e senso de humor afiado. Grace Kelly está maravilhosa como Lisa, mulher rica, sofisticada, mas que não tem medo de enfrentar o perigo. Outra personagem impagável é a enfermeira que cuida de Jeff. Sua língua afiada rende momentos impagáveis do filme. Aliás, os diálogos do roteiro de John Michael Hayes são perfeitos. É claro que a linguagem cinematográfica mudou ao longo desses 60 anos, mas agente para e pensa: “porque as conversas nos filmes de hoje não são mais assim?...”.

O desfecho do suposto crime investigado por Jeff é brilhante. Traz todo o talento do mestre para criar tensão na seqüência em que os três, Jeff, Lisa e a enfermeira estão empenhados em resolver o crime.

Figurando entre os clássicos eternos da Sétima Arte, Janela Indiscreta é entretenimento inteligente e arte de alto nível.

Nota: 10

Up – Altas Aventuras (Up)

Up – Altas Aventuras (Up) – EUA – 2009

Direção: Pete Docter

Roteiro: Pete Docter, Bob Peterson e Thomas McCarthy

Os estúdios Pixar já atingiram um nível de qualidade no qual ouso dizer que é bastante improvável eles lançarem o filme que não seja no mínimo muito bom. E esse último Up – Altas Aventuras fica muito acima do “muito bom”. O filme é tão brilhante quanto seus antecessores Wall.E, Ratatouille, Carros e Os Incríveis. Sem contar os ótimos Toy Story 1 e 2.

A história é sobre o velinho Carl Fredricksen. O conhecemos quando era uma criança praticamente muda e retraída que conhece uma menina chamada Ellie, elétrica e com sede de aventuras que acaba por cativá-lo e tira-lo de sua vida monótona. Depois disso, assistimos a um dos momentos mais tocantes do filme. Sem nenhuma palavra, apenas embalados pela trilha sonora maravilhosa de Michael Giacchino, vemos o casal passar por todas as etapas de suas vidas juntos, incluindo o casamento, a construção da casa, os piqueniques no parque, o momento em que Ellie descobre que não pode ter filhos e por fim, quando Ellie morre e deixa o Sr. Fredricksen sozinho. Como já disse, sem palavra alguma conhecemos toda a dinâmica do casal e entendemos a felicidade em que eles viviam. Um momento único do Cinema nos últimos tempos.

Ellie nutriu um sonho não realizado toda sua vida: viajar para a América do Sul para morar nas florestas e viver grandes aventuras. Diante da eminente expulsão de sua própria casa e a morte de sua esposa, Sr. Fredricksen resolve amarrar milhões de balões à sua casa e viajar com ela rumo à América do Sul para realizar o sonho de sua esposa e o seu, adiado devido às circunstâncias da vida. O que ele não esperava é que o garotinho chato Russell embarcou na viajem sem querer e agora se mostra tanto um inconveniente quanto uma companhia relativamente agradável. Enfrentando as adversidades da viagem, acabam encontrando uma ave rara gigante e o louco explorador que há muito tempo a procura com seu bando de cachorros “falantes”.

O interessante do roteiro é que cada personagem tem suas motivações pessoais para estar naquela aventura. O garoto Russell quer agradar a seu pai que não tem tempo para ele. Sr. Fredricksen que realizar o antigo sonho e dar um sentido ao final de sua vida. O explorador excêntrico que provar para o mundo que ele estava certo. Enfim. Cada um tem seus motivos pessoais para estar ali, o que dá mais sentido à história que poderia ser simplesmente uma aventura bobinha.

O visual do filme é maravilhoso, cheio de cores (como os balões da casa e a floresta tropical) e imagens belas de se ver. As características físicas dos personagens, como de costume nos filmes da Pixar, também transmitem algo sobre suas personalidades além de ter aquele aspecto cartunesco.

Sem querer contar o desfecho, mas revelando um pouquinho, não há ser humano que não se sinta tocado quando por fim o Sr. Fredricksen percebe que o livro de “Coisa que vou fazer” da sua esposa que ele achava estar vazio está repleto com todos os momentos bons que eles passaram juntos. A vida deles não tinha sido uma espera da “grande aventura”. Eles tinham vivido essa grande aventura. Isso eleva o nível do filme de “um filme para crianças” para “uma obra de arte para todas as idades”.

Nota: 10

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Os três mosqueteiros (Les Trois Mousquetaires)

Os três mosqueteiros (Les Trois Mousquetaires)

Autor: Alexandre Dumas (pai)

Sempre tive vontade de ler algo escrito por Alexandre Dumas, e depois que ganhei de aniversário do meu amigo Jair no último ano Os três mosqueteiros, me tornei o mais novo fã do escritor francês do século XIX.

Dumas situa a história em uma frança instável políticamente, quando conhecemos D’Artangnan e aqueles que se tornaram seus inseparáveis amigos: Aramis, Porthos e Athos. A princípio eram inimigos à beira de um duelo, mas depois de resolvido o impasse, a afinidade vem à tona e uma seqüência de aventuras se segue em seus caminhos.

Enfrentando desilusões amorosas, intrigas políticas, duelos por dinheiro e outras coisas, os quatro parceiros viajam pela França e Inglaterra enfrentando os obstáculos em seus caminhos com muito valentia, bom humor de espírito e uma amizade inseparável.

O estilo de escrita de Dumas me atraiu muito, sua forma de arranjar as palavras para que causem o efeito desejado, sua ironia e bom humor ácido fazem a leitura muito prazerosa, mas as vezes difícil de ser compreendida. Não vejo a hora de ter a oportunidade de ler outra de suas obras.

Recomendadíssimo.

O Poderoso Chefão Parte II (The Godfather Part II)

O Poderoso Chefão Parte II (The Godfather Part II) – EUA – 1974

Direção: Francis Ford Coppola

Roteiro: Francis Ford Coppola e Mario Puzo, baseado no livro de Mario Puzo

Depois da lendária primeira parte lançada em 1972 que surpreendeu o mundo por sua qualidade artística e densidade dramática, fazer uma continuação a altura era tarefa difícil. Mas nada que a dupla Francis Ford Coppola e Mario Puzo não tirasse de letra. E o que é melhor: não ouso dizer que o filme seja superior ao primeiro, mas eleva muito o nível da saga dos Corleone, expandido de várias formas as possibilidades que o primeiro filme deixou. O longa causa impacto com a intercalação da vida de Michael Corleone enquanto tenta manter a família unida e os negócios depois da morte do pai com a história do próprio pai na Sicília, desde sua infância até quanto chegou à America e se estabeleceu um homem influente e respeitado.

Somos apresentados durante as mais de três horas de projeção à história de Michael na década de 50 enquanto tenta expandir os negócios da família Corleone para o ramo do entretenimento com um hotel em Havana e em Las Vegas ao mesmo tempo que sofre atentados contra sua vida por parte de seus aliados. Obcecado pelo poder, deixa seu casamento e filhos de lado e descobre que seu irmão o traiu. Conseguindo se safar de uma acusação federal de crime organizado, Michael concentra suas forças para exterminar seus inimigos e se manter no controle da máfia. Através de fashbacks, conhecemos o passado de Vito Corleone no início dos anos 1900, quando assistiu sua família ser exterminada com nove anos de idade, foi para a América sozinho fugindo de seus perseguidores e começa a vida do zero. Acompanhamos o início de sua “carreira” enquanto homem influente e respeitado, quando assassinou o homem que cobrava impostos dos criminosos e assumiu a liderança do crime na cidade.

Não dá pra falar da qualidade da história sem falar das performances do elenco. Robert De Niro tem a difícil tarefa de dar continuidade a um personagem interpretado brilhantemente por Marlon Brando no primeiro filme. E se sai muito bem. Vivendo na Sicília um bom período para se preparar para o personagem, seu italiano soa perfeito (mesmo eu não sabendo nada de italiano) e sua composição de personagem não deixa nada a desejar à de Brando. Até mesmo sua voz é exatamente a do Don Vito que conhecemos. Sem falar em toda a expressividade que De Niro passa nos momentos tensos, quando assassina um homem ou ternos, quando se cerca de sua família. É plenamente plausível imaginar o tamanho da influência que a personalidade e carisma que Don Vito atingiu. Em paralelo, temos Al Pacino, que no primeiro filme era um Michael que rejeitava os negócios da família e do pai e que por fim assume a liderança da família, aqui está mergulhado de cabeça no poder e influência que seu nome possui, mas não possui o mesmo carisma e bondade do seu pai. Os flashbacks são retratados com muito saudosismo, como se aquele tempo em que Don Vito Corleono estava no poder fosse muito melhor do que agora. O que de fato é. Ao passo que Don Vito era amado e respeitado por quem o cercava, Michael é temido, capaz de se vingar sem piedade e eliminar qualquer um que cruze seu caminho.

Com um elenco de apoio tão memorável quanto os protagonistas, Diane Keaton encarna Kay, a esposa atormentada pelo caráter de seu marido pela segunda vez com muito talento. Robert Duvall numa performance contida mas fortíssima é Tom Hagen, o advogado dos Corleone. John Cazale, Talia Shire, Lee Strasberg e Michael V. Gazzo tem ótimas atuações também. Aliás, praticamente todo o elenco foi indicado ao Oscar com merecimento.

Mais um dos pontos altos do filme é sua direção de arte. Com cenários muito bem compostos e elegantes, locações maravilhosas na Sicília, ou na antiga Nova York, o visual do filme é maravilhoso, sem falar no sempre virtuoso Coppola em sua concepção plástica do longa. A iluminação dos cenários é quase sempre natural, o que realça sempre os tons de amarelo e a escuridão das cenas. Aí entra a fotografia maravilhosa de Gordon Willis. Ele consegue distinguir com exatidão os dois períodos diferentes que se alternam. Mesmo sem ver nenhum dos personagens, sabemos exatamente quando e onde se localiza a história a que assistimos na tela.

Com um desfecho angustiante e pessimista, tomamos consciência da perda da humanidade de Michael. E é com muita nostalgia e aperto no peito que testemunhamos uma cena da intimidade família Corleone quando Michael era o filho rebelde e Don Vito ainda o chefão. Como disse em meu texto sobre a parte I, O Poderoso Chefão II também é uma das obras de qualidade artística mais elevadas do Cinema.

sábado, 15 de maio de 2010

Direito de amar (A single man)

Direito de amar (A single man) – EUA – 2009

Direção: Tom Ford

Roteiro: Tom Ford e David Scearce, baseados no livro de Christopher Isherwood

Estreando na direção de filmes, o estilista Tom Ford surpreende por conseguir contar uma história humana e profunda. Direito de amar é um filme forte e visualmente bonito.

O centro da história é o professor universitário George (Colin Firth). Nos primeiros minutos já tomamos conhecimento da tragédia que aconteceu em sua vida. Acaba de perder o seu companheiro de dezesseis anos Jim em um terrível acidente de carro. Acompanhamos um dia do professor em 1962 tentando resistir ao seu luto e o desejo de por fim à sua vida. Nesse meio tempo conhecemos sua melhor amiga de vinte anos Charley (Julianne Moore), o falecido Jim (Matthew Goode) através de lembranças de George e seu aluno Kenny (Nicholas Hoult) que demonstra interesse nele.

George e Charley são ingleses que se mudaram para a América em busca de recomeçar suas vidas. Hoje, com suas vidas mudadas de uma forma que eles não esperavam, encontram um no outro parceiros para os momentos difíceis. O filme se baseia na performance ótima de Colin Firth. Seu trabalho é contido e baseado em pequenos detalhes, porém sentimos todas as emoções de George e tudo que precisamos saber está em seus olhos. Julianne Moore é talentosa como o habitual.

O mérito do filme está em retratar as dificuldades que um homem na década de sessenta enfrenta devido a sua homossexualidade e sua vida pública. O longa é recheado de diálogos cheios de profundidade. Na verdade, tudo dito no filme é cheio de significado. Nisso, o roteiro de Tom Ford e David Scearce é muito feliz. Uma premissa que poderia se tornar em um filme trivial e simples acaba por criam uma história profunda e de grande alcance emocional.

Ford exibe muito cuidado com o visual do filme, abusando de câmera lentíssima na medida certo, zooms nos rostos dos atores, jogos de luz e principalmente cores, que mudam de acordo com o que está sendo mostrado na tela. E não precisa dizer nada com relação à qualidade dos figurinos, já que o diretor é também estilista. No filme tudo é bonito, arrumado e visualmente atraente, comunicando muito sobre aquelas pessoas. Destaque também para a ótima trilha sonora de Abel Korzeniowski.

Agora é só esperar para ver o que o estilista e novo diretor Tom Ford tem para mostrar.

Nota: 10

P.S.: O título brasileiro é ridículo. Não expressa nada que o original em inglês tem a intenção de passar.

Robin Hood (Idem)

Robin Hood (Idem) – EUA – 2010

Direção: Ridley Scott

Roteiro: Brian Helgeland, baseado em história de Brian Helgeland, Ethan Reiff e Cyrus Voris

Com uma carreira que oscila muito, Ridley Scott já brindou os cinéfilos com pérolas como Alien, o oitavo passageiro, Blade Runner, O Gângster e também decepcionou com outros filmes que não podem ser chamados de pérolas como Cruzada, Um bom ano e Rede de Mentiras. Parece que ele se esqueceu que tem talento e é capaz de contar boas histórias.

Bem, a história desse seu mais novo Robin Hood se passa durante as Cruzadas. Robin Longstride (Russell Crowe) é um súdito do Rei Ricardo coração de leão que volta da Palestina derrotado com seu exército e segue saqueando a todos pela frente. Robin é preso por insubordinação com seus amigos. Libertos, ele e seus companheiros se vêm envolvidos em um plano de traição para a invasão da Inglaterra por um dos seus maiores inimigos, os franceses. O filme é uma espécie de Forrest Gump inglês, onde um homem comum testemunha e participa de grandes e importantes fatos.

Scott opta por contar a história de como Robin Longstrid chegou a ser o Robin Hood que conhecemos. O problema é que a história soa pouco realista, o que talvez nem seria um problema muito grande já que ninguém sabe se Robin Hood existiu de fato, mas o que é pior ainda é o fato do roteiro não possuir nenhum tipo de apelo dramático ou simpatia com os personagens principais. Nunca conseguimos nos identificar com Robin, Lady Marion (Cate Blanchett) ou qualquer outro, o que é terrível, porque jamais nos importamos com os seus destinos.

Parece que Ridley Scott se esforçou para repetir o aparente sucesso de sua parceria com Crowe em Gladiador. O resultado foi que não conseguimos distinguir um filme do outro pela performance de Crowe, visto que os projetos eram bastante distintos e pediam performances diferentes. Ao que parece, o talentoso Crowe só consegue interpretar bem certos tipo de papéis.

Mesmo a história sendo pedestre e carente de profundidade, o filme tem seus méritos. As cenas de batalha que envolvem uma produção de maior porte são muito bem dirigidas por Scott. Uma coisa que não me sai da mente é um maravilhoso plano em traveling em que a câmera cruza a frente de vários navios no mar que rumam em direção à batalha na praia. Esse talento com o visual se faz presente em todo o filme. Algumas exceções são uns zooms in que ele usa algumas vezes que soam um pouco fora do estilo do resto do filme. Destaque para os créditos finais com algumas cenas do filme transformadas em desenhos. Ótimo.

Foi com decepção que saí da sala de cinema junto com meus amigos Hélder e Isabel que compartilham da mesma opinião que eu. Ridley Scott perdeu mais alguns pontos com um de seus antigos fãs.

Nota: 5

terça-feira, 11 de maio de 2010

Boogie Nights – prazer sem limites (Boogie nights)

Boogie Nights – prazer sem limites (Boogie nights) – EUA – 1997

Direção: Paul Thomas Anderson

Roteiro: Paul Thomas Anderson

Confesso que assisti aos mais importantes filmes de Anderson, digamos assim, em ordem cronológica inversa. Primeiro, fiquei impressionado com a intensidade dramática de Sangue Negro. Depois, fiquei de queixo caído pela inventividade e profundidade de Magnólia, e agora, mais uma vez, fui surpreendido pelo talento demonstrado nesse transgressor Boogie Nights.

O filme conta uma história de biografia mais do que batida no cinema, abordando ascensão, auge e declínio de uma figura. O que faz diferença é como a história é contada. Neste caso, é Dirk Diggler, um jovem ator de filmes adultos que se torna uma estrela do dia para a noite devido ao seu grande talento para o ofício descoberto pelo diretor Jack Horner interpretado brilhantemente por Burt Reynolds. O grande mérito do filme de Anderson é retratar o mundo dos bastidores de filmes pornô com muita naturalidade, sem julgamentos e preconceitos. Livre de qualquer indício de moralidade. Todos os pertencentes àquele meio estão ali por uma razão emocional diferente. Seja o desejo de se sentir bom em alguma coisa, como o protagonista, seja pela necessidade de oferecer amor de mãe por causa da rejeição que sofre por parte de seu filho, seja pela frustração de não conseguir se tornar um diretor de filmes de respeito, ou para ficar perto de sua esposa que é atriz, ou mesmo por ser um homossexual enrustido que vê nesse negócio uma oportunidade de realizar seus desejos. Enfim, Anderson consegue a façanha de, com um elenco enorme, conseguir desenvolver cada um dos personagens e dar profundidade a eles.

Aliás, talento é o que não falta a Paul Thomas Anderson. O roteiro é forte e conta uma história importante, mas nas mãos do diretor errado poderia resultar em um filme vulgar e sem o menor propósito. Mas Anderson tem uma qualidade em sua filmagem inigualáveis, semelhante um pouco a de Tarantino. O filme já começa com um plano-sequência maravilhoso que eu não tenho nem como imaginar a logística envolvida para a sua realização. A câmera sai do letreiro da boate, dá uma volta pela rua, entra na boate e acompanha por vários minutos os personagens no meio da multidão, seja Jack, o diretor, a atriz Rollergirl em cima de seus patins, entre outros. Simplesmente perfeito. Esse cuidado com a imagem Anderson exibe em todo o longa, com enquadramentos inventivos e outros tantos planos-sequência durante o filme. Dois deles que me marcaram foram um durante uma festa ao redor da piscina da casa de Jack Horner em que a câmera, pasmem, mergulha na água junto com um personagem, e outro durante o assassinato de certa mulher no filme, no qual o assassino encontra a mulher na cama com outro homem, sai friamente do quarto e caminha até seu carro onde a arma se encontra, volta no quarto e atira nos dois. Tudo isso acompanhado pela câmera de Anderson sem um só corte. Esses planos sem corte servem não só para Anderson exibir seu talento, mas para ajudar a contar a história, que tem um tom de documental. Eles causam ainda mais tensão, como no caso do assassinato. Fazem com que o espectador se sinta um observador presente no lugar onde os fatos acontecem.

Outro aspecto de Paul Thomas Anderson que já disse é a profundidade de ele dá para cada um dos seus personagens, conseguindo mergulhar fundo na mente deles, mesmo que dispondo de pouco tempo na tela. Um exemplo é a mãe de Dirk, que transfere para o filho a sua própria frustração, e também o pai do rapaz, impotente diante da vida. Temos ainda a atriz interpretada pela sempre maravilhosa Juliane Moore, que se mostra a personagem mais sensível e vulnerável do filme, com sua necessidade de dar amor materno e de ser amada em retorno, assumindo a postura de mãe de Dirk, mesmo fazendo cenas de sexo com este. Isso já mostra a complexidade dos relacionamentos desenvolvidos por Anderson. Outra personagem interessante do filme é a Rollergirl (Heather Graham), que passa todo o filme em cima de seus patins, encarnando algum tipo de fantasia sexual. Sua cena mais forte é quando faz sexo diante de uma câmera com um colega de colégio que a reconhece e aproveita a oportunidade para humilhá-la, porque provavelmente foi rejeitado por ela na adolescência. A cena que se segue é uma das mais fortes do filme.

A direção de Anderson se assemelha em alguns pontos à de Tarantino, apesar de achar que Anderson explora mais os arcos dramáticos da história. Ambos usam os já falados planos sem corte, retratam a violência com realismo sem reservas, primam pelo visual de seus filmes e se dedicam na construção dos diálogos. Mesmo que às vezes os personagens parecem falar de coisas triviais, eles estão revelando facetas ocultas de seu caráter e personalidade.

É nesse ponto que as atuações do brilhante elenco entram em ação. Mesmo com pontas, John C. Reilly, Heather Graham, Philip Seymour Hoffman e Hilliam W. Macy têm seus momentos em tela para mostrarem seus talentos. Mark Wahlberg encarna Eddie Adams/Dirk Diggler com muita intensidade e sensibilidade. É interessante ver como ele se prepara antes de gravar suas cenas, parecendo que está gravando um filme de kung fu. A inocência do personagem de 17 anos prestes a gravar uma cena de sexo chega quase a causar pena no espectador. Outro destaque é Burt Reynolds, que incorpora o diretor Jack Horner com perfeição. Ele encara seu trabalho como se fosse um Steven Spielberg dos filmes pornôs. Os momentos em que ele mostra sua vulnerabilidade ou tem sua mediocridade exposta enquanto diretor são comoventes.

O amadurecimento e perda da inocência do personagem de Mark Wahlberg são retratados de forma brilhante, servindo como uma metáfora para a juventude de forma geral, e também mostra o pessimismo de Anderson com relação à sociedade americana. Anderson é irônico e ousado ao fazer um filme sobre o mundo da pornografia nos Estados Unidos, país tão moralista e que tanto tenta esconder seus podres. O país é contraditório, como qualquer moralista. Ao mesmo tempo em que o Presidente prega com veemência a moral e os bons costumes, o país possui a maior indústria pornográfica do mundo. Boogie Nights, assim como outro clássico que veio depois, Beleza Americana, têm a mesma ousadia de trazer à superfície o lado escondido.

A direção de arte recria os anos 70 e 80 com perfeição, distinguindo muito bem as duas décadas, e no fim do filme, um pouco dos anos 90. Os figurinos têm a mesma qualidade e função artística. A trilha sonora é um show à parte, com canções que se encaixam perfeitamente nos momentos certos, seja pelo som ou pela letra.

Hollywood precisa muito de diretores como Paul Thomas Anderson. Ousado, talentoso, subversivo e que não tem medo de errar. Boogie Nights é obrigatório.

Nota: 10

domingo, 2 de maio de 2010

Homem de ferro 2 (Iron man 2)

Homem de ferro 2 (Iron man 2) – EUA – 2010

Direção: Jon Favreau

Roteiro: Justin Theroux, baseado nos quadrinhos de Stan Lee, Don Heck, Larry Lieber e Jack Kirby

Esse segundo longa Homem de ferro 2 parte do exato ponto em que o primeiro filme termina. O momento em que Tony Sark (Robert Downey Jr.) anuncia ao mundo que ele é o Homem de ferro. Dentre a enxurrada de filmes de super-heróis baseados em histórias em quadrinhos, Homem de ferro em 2008 surgiu como um alívio, devido a ter apresentado cenas de ação muito bem realizadas por Favreau e principalmente, por ter um protagonista que não passa por crises existências pelo fato de ser um herói e não tem traumas do passado. Tony Stark é egocêntrico e narcisista e se preocupa apenas em se divertir e gastar sua imensa fortuna.

Todas as características positivas do primeiro filme foram conservadas nesse segundo. O humor ácido, as ótimas cenas de ação (melhores ainda nesse, devido ao investimento maior) e o tom leve da história, sem se preocupar muito em se aprofundar na mente e nos dramas dos personagens.

Downey Jr. continua perfeito na pele de Stark, demonstrando estar se divertindo muito, assim como Tony, em tudo o que faz. Ele encarna muito bem o egocentrismo de Stark e até mesmo sua infantilidade e imaturidade diante da vida. Parece um menino empolgado com seu brinquedo novo. A cena da festa na mansão é imperdível. Gweeneth Paltrow e Scarlet Johanson não têm muito que fazer com seus papéis com poucos momentos em cena. O destaque fica por conta dos vilões Justin Hammer e Ivan Vanko interpretados por Mickey Rourke (Vanlo) com fúria e intensidade me suas poucas falas e Sam Rockwell (Hammer) tão infantil quanto Stark. Outra participação imperdível é a de Samuel L. Jackson como Nick Fury, parceiro de Stark.

Com um roteiro não muito original, o conflito que Tony enfrenta é com o governo dos EUA, que quer tomar sua armadura pelo fato de ser considerada uma ameaça ao mesmo tempo em que é perseguido por Ivan que quer vingar a morte de seu pai morto pelo pai de Stark. Além disso, Stark entra em um processo de envenenamento pelo mesmo dispositivo que o mantém vivo, tendo que achar uma solução em curto intervalo de tempo.

O charme do filme fica por conta da direção de Favreau, que tem um talento especial para dirigir longas de ação. Ele imprime energia em todo o filme e consegue fazer humor, o que é muito raro.

Mantendo o nível de qualidade do primeiro, Homem de ferro 2 é uma ótima continuação. O terceiro promete.

Nota: 9