quarta-feira, 22 de maio de 2013

Somos tão jovens (Idem)


Somos tão jovens (Idem) – 2013 – Brasil

Direção: Antônio Carlos da Fontoura

Roteiro: Marcos Bernstein

Uma vez que se sabe que o filme Somos tão jovens é sobre o início da carreira musical de Renato Russo e a sua banda mais famosa Legião urbana, uma sinopse não é necessária. Essa cinebiografia fica ao lado de Cazuza – o tempo não para como um bom exemplar do gênero, mas que não surpreende ou emociona. Apenas serve para contar a história de seus protagonistas, ressaltar sua genialidade e colaborar um pouco mais para a criação do mito, distanciando o ícone do resto da humanidade.

Enquanto Ray e Piaf – um hino ao amor não tinham medo de mostrar o lado mais obscuro, digamos assim, dos seus protagonistas, suas falhas de caráter e erros de julgamentos cometidos ao logo da vida (mas pecando por outros problemas narrativos) Antônio Carlos da Fontoura parece ter um pouco de medo de humanizar Renato Russo e trazer alguma identificação com o público. Identificação essa que fica só por conta das músicas que todos conhecem e do sentimento de nostalgia que elas trazem. Poucas vezes me emocionei ao longo da projeção e me importei apenas levemente pelas pessoas que estavam na tela. Considero isso um problema grave.

O Renato mostrado pelo roteiro de Marcos Bernstein parece ser sempre alguém à frente de seu tempo, e até mesmo um pouco arrogante por ter consciência disso. Enquanto ninguém conhecia o punk rock vindo da Europa, Renato o trouxe e o divulgou como o ‘som do futuro’, dizendo que a sua geração tinha que se engajar nas causas políticas através da música e fazer algo a respeito da ditadura no país. Depois de um tempo e do fim da banda, eis então que surge Renato solo com um novo som e novas músicas, com letras mais amenas e menos politizadas, dizendo que o punk rock era coisa do passado. É impossível não simpatizar com ele e se deixar envolver com seu carisma (créditos para a incrível performance de Thiago Mendonça), mas imagino que seria um tanto irritante conviver com alguém que se julgava tão superior e todos o outros tão atrasados.

Voltando à atuação de Thiago Mendonça, o trabalho de caracterização realmente é impressionante. E isso eu não digo só pelo cabelo, barba, óculos e forma de se vestir. Muito pelo contrário. Esses elementos ajudam, mas são uma mínima parte do trabalho de um grande ator. Ele incorpora os trejeitos de Renato no palco, e até mesmo a dicção meio arrastada, como de alguém que sempre estivesse fazendo um discurso em frente a uma plateia, além do timbre de voz tão característico. Isso sem falar nas cenas que exigem mais de seu talento dramático, nas quais ele corresponde à altura, e em momento algum soa caricato ou chego ao overacting.
O roteiro de Marcos Bernstein tem uma estrutura coesa, mas peca quando atira versos das músicas de Renato no meio de diálogos em momentos de efeito e dramáticos. Soa forçado e atira o expectador pra fora da narrativa. Mas o mesmo tempo é bem interessante descobrir como surgiram músicas como Eduardo e Mônica e Faroeste Caboclo.

O desfecho do filme é um pouco decepcionante. Confesso que esperava um final mais com cara de final mesmo, e com o pay off que os diretores de Hollywood gostam tanto e que um filme do gênero (cinebiografia, no caso) pede tanto.

A conexão de Renato, seus amigos e os membros da sua banda são o centro da narrativa, porém eu confesso que senti falta um pouco de entender como era a dinâmica de sua família e como ela afetava sua arte, sua forma de pensar e os seus outros relacionamentos. Acho que isso iria torná-lo mais humano aos nossos olhos e um personagem mais complexo. Algo que pra Cinema é sempre mais interessante do que figuras unidimensionais e superficiais. O filme mostra seus pais e irmã, mas de forma sempre rápida de sem se aprofundar muito.

O seu interesse amoroso por Flavio, um dos membros do Aborto elétrico é retratado de forma burocrática e covarde. Assim como a homossexualidade de Renato. Em momento nenhum ele aparece se relacionando de forma íntima com homens, o que soa hipócrita, visto que a sua ligação com Ana sua amiga/namorada é mostrada de forma natural. Nada mais normal do que retratar os seus primeiros contatos sexuais com outros homens. Talvez seja um reflexo da Globo filmes. Mas enfim...

Somos tão jovens é uma bela homenagem à banda Legião Urbana e ao seu criador, mesmo que não seja um grande estudo de personagem e que só ajude a mitificar o mesmo.

Nota: 7,0