quarta-feira, 24 de março de 2010

Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard)

Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard) – EUA – 1950 *****

Direção: Billy Wilder

Roteiro: Charles Brackett, D.M. Marshman Jr. e Billy Wilder

De tempos em tempos o cinema produz algo sobre ele próprio, como no ótimo O Jogador de Robert Altman ou o mais novo de Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios, que mistura o assunto Segunda Guerra Mundial (mais do que explorado) e a paixão de seu cineasta pela Sétima Arte rendendo um bom resultado. Neste clássico (no melhor sentido da palavra) Crepúsculo dos Deuses, Billy Wilder nos apresenta a história de uma estrela de cinema decadente chamada Norma Desmond (Gloria Swanson) e por conseqüência, nos mostra um pouco do mundo de Hollywood e de seus bastidores nos anos cinqüenta. Quem nos conta a história é o roteirista Joe Gillis (William Holden). Já nos minutos iniciais tomamos consciência de seu assassinato, com seu corpo encontrado boiando na piscina de uma mansão. Daí pra frente, voltamos no tempo em um flashback em que o próprio Joe relata toda sua trajetória até aquele ponto. Por casualidade, ele chega a uma mansão em Sunset Boulevard com ares de abandonada, mas descobre mais tarde que é habitada por uma excêntrica ex-atriz dos anos 20 de Hollywood, Norma Desmond, que passou os últimos anos de sua vida escrevendo o roteiro maluco de um filme que deseja estrelar e ser dirigida por Cecil B. DeMille, sendo este o seu retorno glorioso às telas. Contratando Joe para revisar o roteiro, ele acaba envolvido num romance com jogos de interesse e chantagem emocional. Ao mesmo tempo ele se envolve com a simpática noiva de seu amigo, aspirante a escritora de roteiros, vai descobrindo o quanto efêmero e às vezes superficial é mundo do Cinema de Hollywood. Wilder é dono de uma filmografia muito regular, segundo público e críticos, dos quais eu já vi os títulos Sabrina, Quanto mais quente melhor e O Pecado mora ao lado, todos memoráveis e dignos de serem vistos e revistos muitas vezes. Este Crepúsculo dos Deuses já é o suficiente pra mim para elevar o diretor ao nível de gênio da Sétima Arte, devido ao uso da linguagem cinematográfica para contar a história e da profundidade e tridimensionalidade que confere a todos os personagens e às histórias. É difícil, por exemplo, saber o que prende Joe a casa e à Norma. Dinheiro? Carência emocional? Satisfação por ser sentir útil? Amor verdadeiro? Na verdade é de tudo um pouco, e o interessante é decifrar isso ao longo do filme. Isso, sem falar da personagem Norma, a atriz que viveu seus dias de glória estrelando os filmes de Cecil B. DeMille, mas não conseguiu lidar bem com o envelhecimento e o que as conseqüências dele trouxeram para sua profissão, sem falar no seu desequilíbrio emocional. Norma é uma personagem muito interessante, abrilhantada mais ainda pela performance teatral e intensa de Gloria Swanson. Com vários personagens curiosos, como o mordomo de Norma, a namorada de Joe, e até mesmo Cecil B. DeMille fazendo uma ponta imperdível como ele mesmo, o filme é repleto de momentos memoráveis e cheios de significados. Outro destaque fica por conta dos diálogos, com frases como “Eu não sou grande, os filmes é que se tornaram pequenos” e “Sr. DeMille, estou pronta para o meu close-up” ou “Os filme mudaram bastante ultimamente”. Frases como estas ditas pelo elenco formidável tornam-se inesquecíveis. Crepúsculo dos Deuses é um clássico obrigatório.