domingo, 11 de abril de 2010

O Poderoso Chefão (The Godfather)

O Poderoso Chefão (The Godfather) – EUA – 1972

Direção: Francis Ford Coppola

Roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola, baseado no livro de Mario Puzo

São poucos os filmes à que assistimos que nos tocam e impressionam tão profundamente que fazem com que tenhamos vontade de assisti-los várias e várias vezes. Esse é o caso de O Poderoso Chefão. Essa obra prima (no melhor sentido da palavra) foi dirigida por Coppola com a impressionante idade de trinta e três anos e poucos filmes no currículo. A Paramount apostou alto no cineasta e teve o retorno. Três Oscars (incluindo melhor filme e ator para Marlon Brando) e sucesso nas bilheterias. A obra é de uma profundidade dramática e artística tão grande que não me considero em condições de escrever sobre ela. Mas vou tentar.

A história é sobre a família Corleone, que veio da Itália para os Estados Unidos e acaba por se estabelecer como a mais influente família da máfia estrangeira no país através da pessoa de Don Vito Corleone (Marlon Brando). Os Corleone enfrentam uma crise nos negócios com as outras cinco famílias devido a estas terem o desejo de entrar para o ramo do tráfico de narcóticos, ao passo que Don Corleone se opõe pelo fato disto ir contra os seus princípios de conservação da família. Sendo uma peça fundamental para a entrada das famílias no negócio devido à sua influência na política, polícia e justiça, Don Corleone e sua família passam a sofrer perseguições violentas por parte dos outros chefões e ao mesmo tempo têm que lidar com crises internas na família.

O roteiro escrito por Mario Puzo e retocado por Coppola é simplesmente genial. A forma como ele desenvolve os personagens a história com sutilezas e cenas fortes é impressionante. Vamos conhecendo cada um deles mais profundamente à medida que a história avança através de suas atitudes e decisões. Ao mesmo tempo em que o enredo não é previsível, entendemos perfeitamente porque cada personagem agiu de certa forma ou de outra como uma conseqüência natural de suas cargas emocionais e temperamentos, e acima de tudo, sua ligação com a família. O roteiro é ainda recheado de diálogos fortes e frases memoráveis que fazem parte da cultura pop atualmente, como “vou lhe fazer uma proposta que ele não poderá se recusar”.

Coppola, apesar de sua inexperiência como cineasta demonstra talento e sensibilidade inigualáveis na direção. Cada cena foi pensada com enorme cuidado. Os movimentos de câmera e enquadramentos são geniais. Além de serem bonitos de se ver, são cheios de significados. Um exemplo é a seqüência inicial, um diálogo entre Don Corleone e um homem que lhe pede um favor. A câmera vai se afastando do homem à medida que ele fala, como se o próprio Don Corleone estivesse se afastando do homem e de seu pedido. Outro momento forte é uma briga de casal em que a câmera de Coppola, se corte nenhum, acompanha o casal pelo apartamento enquanto eles brigam fisicamente e verbalmente. Esses são só dois exemplos do virtuosismo de Coppola que se repete ao longo de todo o filme em todas as cenas. Cada movimento de câmera, enquadramento e até mesmo elementos de cenário têm suas funções que ajudam a contar a história. Isso sem contar na fotografia maravilhosa em que predominam os tons de laranja e os tons mais escuros, realçando a beleza de cada cenário e locações, como na cena do casamento e principalmente nas locações na Cicília. Simplesmente lindas. Outro destaque é a trilha sonora do italiano Nino Rota. Ninguém melhor do que um italiano para compor a trilha marcante que embala a vida dos Corleone.

As atuações estupendas abrilhantam ainda mais a obra. A começar por Marlon Brando, ator lendário de Hollywood. Ele cria um Don Corleone inesquecível, com a voz rouca e cansada de uma pessoa velha (Brando não era velho quando fez o filme) o andar vacilante e extremamente expressivo. Conseguimos perceber os sentimentos e pensamentos de Don Corleone através de sutilezas de interpretação, como quando ele descobre que um parente próximo foi assassinado e exprime sua tristeza (um dos momentos mais tocantes do filme) ou quando vê seu filho o visitando no hospital e esboça um pequeno sorriso. O espectador consegue entender todo o poder da influência de Don Corleone sobre sua família, empregados e na sociedade americana. Sua inteligência e sagacidade são perfeitamente encarnadas por Brando. Al Pacino também brilha e demonstra com muito talento o processo pelo qual Michael passa dentro da família: primeiro, a rejeição do modo de vida de sua pai e irmão, depois impotência e por fim aceitação de suas origens e destino, por assim dizer. Diane Keaton está ótima como a mulher dividida entre os seus princípios e o amor pelo marido; seu papel se desenvolve muito mais ao longo dos três filmes. James Caan dá vida ao impulsivo Sonny com intensidade e Robert Duvall tem uma performance extremamente sensível e ao mesmo tempo intensa no difícil papel do advogado/filho dos Corleone.

Se tratando da ascensão e queda de Michael Corleone, o verdadeiro protagonista da trilogia, O Poderoso chefão é umas das obras de qualidade artística mais elevadas que Hollywood já produziu.

Nota: 10