segunda-feira, 23 de julho de 2012

Valente (Brave)


Valente (Brave) - EUA – 2012

Direção: Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell

Roteiro: Brenda Chapman, Mark Andrews, Steve Purcell e Irene Mecchi

Com uma carreira quase impecável, os estúdios Pixar já provaram para o mundo que não é só de adaptações de histórias dos irmãos Grimm que vivem os filmes de animação. Sempre apostando em roteiros originais com personagens fora do convencional, John Lasseter e sua equipe já encantaram a todos com a trilogia Toy Story, Os incríveis, Up – altas aventuras, Ratatouille entre outros. Depois de um fraco Carros 2 (porque faze uma continuação?) esse novo Valente surge como um filme interessante, mas nada extraordinário como estamos acostumados a esperar do estúdio.

Princesa de um reino em um lugar e tempo desconhecidos para mim (imagino que seja uma Europa Medieval), Merida desde pequena mostra preferência por atividades como cavalgar, arco e flecha, entre outros tipos de desafios que envolvem a natureza e o seu físico, pouco convencionais para uma moça na sua posição de princesa e para a ambição de sua mãe, a rígida rainha Elinor, que tem planos maiores para a garota, que é formá-la para ser uma perfeita esposa e rainha para seus pretendentes. Diante de um casamente arranjado com um dos três príncipes nada interessantes para Merida (e para ninguém, eu acho), ela deseja apelar para a magia de uma misteriosa e divertida bruxa da floresta, que lhe oferece a opção de mudar a sua mãe para que esta deixe Merida fazer suas próprias escolhas. O plano não dá muito certo, transformando Elinor em um gigante urso, que passa a ser perseguido por seu pai, e as comitivas dos três reinos de seus pretendentes. Para piorar, se a situação de Merida e sua mãe não for solucionada até o por do sol do segundo dia depois do início do encanto, Elinor será um urso para sempre.

Merida é uma protagonista muito interessante. Espírito livre e vivaz, ela só ansiava por poder fazer suas próprias escolhas, o que demonstra que ela de certa forma era feminista (sem saber) e uma garota a frente de seu tempo. Só o fato de a Pixar criar um longa com uma protagonista mulher e feminista já é algo notável. Mas o triste é que o que é notável fica por aí. As possibilidades criadas pelo primeiro ato são desperdiçadas por uma história um tanto rasa e com uma resolução forçada, criada apenas para cumprir o papel.

O centro da narrativa a meu ver deveria ser o relacionamento de Merida e Elinor e os conflitos que a diferença de personalidades e de gerações entre as duas gera. E de fato o é. Mas o filme perde o foco ao longo da projeção apostando em gags de humor físico que são engraçadinhas e agradam ao público infantil que é o grande alvo do estúdio, mas as vezes soam forçadas e fora de hora. Outros dois aspectos muito desnecessários que poderiam ser retirados do filme sem nenhuma alteração são as luzes mágicas que surgem na floresta sempre que é conveniente e a subtrama envolvendo a bruxa e uma antiga lenda do passado que ressurge quase que nos minutos finais.

Elinor e Merida são mãe e filha que se amam, mas tem suas diferenças para acertar. As possibilidades de ideias para serem exploradas aí são enormes: feminismo, conflito de gerações, relacionamentos familiares, compreensão com as diferenças, tolerância, entre outros; mas o roteiro deixa tudo isso só na promessa. A densidade dramática fica por conta de poucas cenas no final no terceiro ato, e é quebrada por frases como “siga seu coração”, e outras coisas ao estilo Disney. Esse fato me deixa extremamente triste, visto que a Pixar sempre presou por passar mensagens relevantes apostando na força de suas boas histórias e de seus personagens bem desenvolvidos, sem apelar para lições de moral faladas na conclusão dos filmes.

Elogios devem ser dados à parte técnica, como sempre. O visual das “paisagens” e “locações” impressiona, assim como o figurino e aparência física dos personagens. Os rostos são extremamente expressivos e os movimentos parecem perfeitamente naturais. O único problema com o visual do filme (que foi comprovado pela opinião de outras pessoas, não só a minha) é a escuridão das cenas que se passam à noite ou no interior de algum ambiente escuro. É claro que o óculo 3D escurecem a fotografia, mas isso tem que ser levando em conta pelos realizadores. Parece um erro muito primário para mim. A trilha sonora encanta e traz o clima do tempo e do lugar. As duas ou três canções que tocam ao longo do filme passam um pouco despercebidas. Talvez seja porque eu as escutei em português, mas acho improvável. As melodias são genéricas e as letras... nem me lembro. Acho que o fato de o roteiro ter sido escrito por QUATRO pessoas e a direção ser assinada por TRÊS delas prejudicou o resultado final.

Mas nem de longe Valente é um filme que não merece ser visto. Na verdade, qualquer filme merece ser visto porque ele pode comunicar algo, por pior que seja. É a melhor animação do ano até o momento, o que não significa muito.

Nota: 7,0

P.S.: Adorei a companhia de Daniele, Vagner, Heitor, Sophia e Phillipe.