quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

The Walking Dead - 2ª Temporada (parte 1)


Criador: Frank Darabont

Baseado no grafic novel de Robert Kirkman

Spoiler alert!

Depois da impecável Primeira temporada de apenas 6 episodios, The Walking Dead continua acompanhando a saga de um grupo de humanos sobreviventes de uma epidemia que transformou quase toda a humanidade em zumbis que se alimentam de carne humana e de outros animais. Baseado no grafic novel de Robert Kirkman, a série é um ensaio sobre o comportamento humano em condições extremas e as formas que este comportamento pode assumir no âmbito religioso, intelectual, social e emocional na vida daqueles personagens.
O roteiro desta segunda temporada (parte 1) se concentra na busca da garotinha Sophia que desapareceu e na chegada do grupo à fazenda de Hershel onde Rick pede socorro depois que o seu filho foi baleado por acidente.
Os questionamentos envolvendo a persistência na busca da garota ou a desistência da mesma rendem muitas discursões interessantes e traz à tona o conflito entre as personalidades de Shane e Rick, que mesmo sendo tão amigos, tem formas tão diferentes de ver o mundo depois da epidemia e até mesmo antes dela, como mostra uma conversa entre os dois relembrando os tempos de high school de ambos. Outro conflito muito interessante e relevante para a história (que eu já estava sentindo falta na primeira temporada) é a forma como Hershel e os moradores de sua fazenda vêem os errantes: não como simples mortos vivos a procura de alimento, mas como pessoas doentes que devem ser preservadas até que se encontre a cura. E isso é revelado de forma chocante, quando descobrimos que o celeiro da fazenda está repleto de errantes, incluindo amigos e conhecidos de Hershel e principalmente sua esposa e seu enteado.
Fica clato a diferença de interesses entre Rick e Hershel. Enquanto o primeiro quer um lugar livre de zumbis onde ele pode viver tranquilamente com sua família, o segundo nutre a esperança de recuperar a parte de sua família contaminada e pensa que os errantes devem ser tratados como humanos, e não mortos vivos que devem ser aniquilados. A racionalidade de Rick entra sempre em confronto com a religiosidade de Hershel, e um, de certa forma, acaba influenciando o outro, visto que o interesse de ambos é o mesmo: viver feliz em família. Mesmo que o sonho de Hershel, e até mesmo de Rick, pareça impossível naquela realidade.
O maior mérito dos roteiristas, diretores e produtores é criar uma linha narrativa contínua para o seriado. Não temos uma deixa no fim de cada episódio que leva o espectador a ter vontade de assistir ao próximo, como acontece com muitas séries, e o que soa desonesto pra mim. A história simplesmente transcorre através dos episódios, e se ela prende a atenção é porque é interessante, honesta e importante por si só, não por causa de recursos narrativos batidos e inaceitáveis nos dias atuais numa série dramática deste nível.
Os personagens e seus dilemas são tratados de forma imparcial e humana, nunca pendendo para uma forma de pensar ou analisar a situação. Vide a mulher que descobre que está grávida e fica em dúvida se quer ou não ter a criança naquele mundo, ou o homem que se vê obrigado a matar um companheiro para salvar a sua própria vida e a do garoto Carl, ou Rick e seu dilema de liderar o grupo a buscar a gartotinha Sophia ou não; assim é com todos os personagens e situações. Por isso a série é um ensaio sobre o comportamento humano; assim como o filme do mesmo produtor/diretor Frank Darabont O Nevoeiro e o filme de Fernando Meireles Ensaio sobre a cegueira. The walking dead consegue ser ambiciosa quase ao nível cinematográfico desses dois títulos, só não o é pelo fato de ser uma série de TV e estar limitada ao que a linguagem de TV exigue. Mas ainda assim, The walking dead é uma das séries cinematográficas que estão no ar atualmente nos EUA, e forma ao lado de Dexter, as duas melhores que eu assisto.
O desfecho do sétimo episódio é o clímax que estava sendo preparado nos seis episódios anteriores que amarra a história e a deixa coesa, dando ao espectador a impressão (verdadeira) de que nada que aconteceu ao grupo foi por acaso. Tudo levou àquela conclusão. Agora só cabe morrer de curiosidade pra saber o que aquele terrível fato causou no grupo e o que está por vir.

Nota: 10