Eu poderia fazer aqui um texto
destroçando Battleship – batalha dos
mares como eu fiz com Transformers –
o lado oculto da Lua, mas ao invés disso, resolvi refletir um pouco sobre o
Cinema norte americano e os caminhos que ele tem tomado nos últimos anos com o
mais recente 3D ressuscitado por Avatar
(2009) e porque não também refletir
sobre as três últimas décadas, desde que os efeitos digitais (CGI) começaram a
ser introduzidos no Cinema como ferramenta para criar aquilo que não poderia
ser filmado da forma convencional com o ótimo O enigma da pirâmide (1985).
Desde que os Irmãos Lumière criaram em 1985 aquilo que viria
a ser mais tarde o Cinema como o conhecemos como forma de Arte, não passou
muito tempo para que alguém percebesse o potencial comercial da ferramenta para
ele se tornar popular ao redor do mundo como forma de expressão artística e
entretenimento (coisa que não vejo de forma negativa, visto que artistas
precisam ser pagos pelo seu trabalho para poderem se dedicar às suas obras).
Não há problema nenhum em uma arte se tornar comercial. Principalmente o Cinema
precisa se pagar muito bem, visto que exige tantos recursos para sua realização
(mesmo um curta metragem de três minutos pode custar milhões). Diferente da
literatura, por exemplo, que só necessita de um arquivo de word em branco para acontecer.
Em qualquer forma de arte, quando
um artista é desonesto e tenta simplesmente fazer um produto para ser vendido e
fazer sucesso, aqueles que a consomem e que têm um mínimo de senso crítico conseguem perceber essa “trapaça” e falta
de inspiração de cara. Não é incomum escutar músicas de um cantor pop que parecem ter sido feitas dentro
de uma “fórmula” para o sucesso, com letras, instrumental e melodias genéricas.
Não é incomum ver em salas alheias quadros que mais parecem cópias de outros,
com paisagens bonitas, mas que não apresentam nada de novo, seja no traçado,
nas cores, etc. E você não se surpreende quando vai à casa de outra pessoa e
encontra um quadro praticamente idêntico ao visto anteriormente. Também não é
raro ler livros com histórias “repetidas”, batidas, cheias de clichês,
previsíveis, e com recursos narrativos que são verdadeiras bengalas do autor,
na qual ele se apoia para esconder a falta de talento (vide Stephenier Meyer,
Dan Brown e Nicholas Sparks). Imagino que desde que a arte existe, existe esse
tipo de coisa. Mas quando vi Battleship –
batalha dos mares pensei que Hollywood ultrapassou todos os limites.
Muitas vezes eu vi comédias
românticas feitas com o único proposito de agradar ao público jovem e que eram um
tanto vazias, mas me diverti muito (O
melhor amigo da noiva, 2008 para citar uma); ou um filme de ação genérico
que conseguiu capturar minha atenção e me prender na história e na ação em si (Salt, 2010). Não sou um cinéfilo chato
que só assiste filmes “de arte” e despreza o Cinemão Hollywood que é feito com
o propósito de arrecadar milhões. Mesmo esses longas podem conservar certa
qualidade artística e ambição narrativa. Me lembro agora de Avatar (2009), já citado anteriormente no
texto. A maior bilheteria da história, com orçamento estimado em torno de
quinhentos milhões de dólares que, apesar de toda a publicidade que teve
continua relevante. Hoje, passados quase três anos de seu lançamento, um tempo razoável
para toda a poeira levantada em torno de si se assentar, o filme continua sendo
importante, tanto pelo fato de ter estabelecido avanços na área dos efeitos
visuais quanto em sua narrativa, porque conta uma história importante, que
aborda conceitos profundos sobre a existência humana, filosofia e
espiritualidade. E é um grande entretenimento!
Mas Battleship...
O filme é completamente vazio de
conteúdo. Os personagens não são pessoas. São objetos usados pelo roteirista
como desculpa para criar sequências de ação grandiosas com CGI na potência
máxima. O roteiro é tão tolo que chega a não fazer sentido em vários momentos.
Enfim, não é necessário ficar falando da mediocridade do filme. Mas tenho que
reconhecer que um ponto positivo ele tem: há um plano-sequência incrível
envolvendo uma fuga de um navio. Tenho que reconhecer que achei muito bom
(vindo de alguém de gosta muito de planos-sequência).
Preocupa-me o futuro do chamado Cinema
comercial americano. É de longe o mais consumido no mundo todo. Enquanto bombas
como Battleship e Transformers (da mesma produtora) fazem
bonito nas bilheterias (até dia 20 de maio Battleship
só perdia para Os Vingadores), não é
raro ver filmes um pouco mais alternativos e menos badalados passarem batidos, com
exibição em poucas salas, campanhas publicitárias apagadas e como consequência
disso, bilheterias pouco expressivas. É com frequência que saio da sala de
Cinema pensando “todo mundo deveria ver esse filme...” por ele ser importante
por ou motivo ou outro, mas na maioria das vezes, esses são os que quase
ninguém vai ver. Não porque eles sejam ruins ou chatos, mas porque não dispõem da
arma ($$) publicitária que os Transformers/Battleships
da vida têm. Eu tenho consciência de que sempre será assim: filmes mais
ambiciosos artisticamente terão bilheteria menor do que os feitos para serem blockbusters. Mas será que essa
diferença não pode ser um pouco diminuída?
Fico triste quando escuto alguém antes de mim na
fila da bilheteria do Cinema perguntar para o atendente “qual é o filme em 3D
passando?” Onde está o senso crítico dessa pessoa? Ela está disposta a consumir
o que quer que seja simplesmente porque alguém disse pra ela que ver filmes em
3D é legal? E se for alguma besteira do Michael Bay ou do Rob Schneider em 3D, será
que não importa o quão fútil e lixo seja, contanto que seja 3D? Quantos por
cento da população pensam desse jeito? São perguntas como essas que passam pela
minha cabeça nessas horas. Não sou um chato e não quero ver toda a população
mundial pagando de cult só querendo
ver os filmes do P. T. Anderson e Roman Polansky. Quero ver filmes bobinhos
também pra me divertir, mas mesmo quando for assim, quero pelo menos não ter
minha inteligência ofendida e nem ser bombardeados com conceitos ruins como
machismo, patriotismo cego, xenofobia, racismo e homofobia como costuma muitas
vezes acontecer com filmes medíocres. E mais do que tudo, gostaria de ver as
pessoas distinguindo a diferença entre arte ruim e boa, e assistindo a TODO
tipo de cinema, mas depois da sessão, discutindo com os amigos aquilo que
acabaram de ver e transformando o filme em conceitos e ideias boas e
aproveitáveis para suas vidas.