Direção: Antônio Carlos da Fontoura
Roteiro: Marcos Bernstein
Uma vez que se sabe que o filme Somos tão jovens é sobre o início da
carreira musical de Renato Russo e a sua banda mais famosa Legião urbana, uma
sinopse não é necessária. Essa cinebiografia fica ao lado de Cazuza – o tempo não para como um bom
exemplar do gênero, mas que não surpreende ou emociona. Apenas serve para
contar a história de seus protagonistas, ressaltar sua genialidade e colaborar
um pouco mais para a criação do mito, distanciando o ícone do resto da
humanidade.
Enquanto Ray e Piaf – um hino ao amor
não tinham medo de mostrar o lado mais obscuro, digamos assim, dos seus
protagonistas, suas falhas de caráter e erros de julgamentos cometidos ao logo
da vida (mas pecando por outros problemas narrativos) Antônio Carlos da Fontoura
parece ter um pouco de medo de humanizar Renato Russo e trazer alguma
identificação com o público. Identificação essa que fica só por conta das
músicas que todos conhecem e do sentimento de nostalgia que elas trazem. Poucas
vezes me emocionei ao longo da projeção e me importei apenas levemente pelas
pessoas que estavam na tela. Considero isso um problema grave.
O Renato mostrado pelo roteiro de
Marcos Bernstein parece ser sempre alguém à frente de seu tempo, e até mesmo um
pouco arrogante por ter consciência disso. Enquanto ninguém conhecia o punk
rock vindo da Europa, Renato o trouxe e o divulgou como o ‘som do futuro’,
dizendo que a sua geração tinha que se engajar nas causas políticas através da
música e fazer algo a respeito da ditadura no país. Depois de um tempo e do fim
da banda, eis então que surge Renato solo com um novo som e novas músicas, com
letras mais amenas e menos politizadas, dizendo que o punk rock era coisa do
passado. É impossível não simpatizar com ele e se deixar envolver com seu
carisma (créditos para a incrível performance de Thiago Mendonça), mas imagino
que seria um tanto irritante conviver com alguém que se julgava tão superior e
todos o outros tão atrasados.
Voltando à atuação de Thiago
Mendonça, o trabalho de caracterização realmente é impressionante. E isso eu não
digo só pelo cabelo, barba, óculos e forma de se vestir. Muito pelo contrário.
Esses elementos ajudam, mas são uma mínima parte do trabalho de um grande ator.
Ele incorpora os trejeitos de Renato no palco, e até mesmo a dicção meio
arrastada, como de alguém que sempre estivesse fazendo um discurso em frente a
uma plateia, além do timbre de voz tão característico. Isso sem falar nas cenas
que exigem mais de seu talento dramático, nas quais ele corresponde à altura, e
em momento algum soa caricato ou chego ao overacting.
O roteiro de Marcos Bernstein tem
uma estrutura coesa, mas peca quando atira versos das músicas de Renato no meio
de diálogos em momentos de efeito e dramáticos. Soa forçado e atira o
expectador pra fora da narrativa. Mas o mesmo tempo é bem interessante
descobrir como surgiram músicas como Eduardo
e Mônica e Faroeste Caboclo.
O desfecho do filme é um pouco
decepcionante. Confesso que esperava um final mais com cara de final mesmo, e
com o pay off que os diretores de
Hollywood gostam tanto e que um filme do gênero (cinebiografia, no caso) pede
tanto.
A conexão de Renato, seus amigos
e os membros da sua banda são o centro da narrativa, porém eu confesso que
senti falta um pouco de entender como era a dinâmica de sua família e como ela
afetava sua arte, sua forma de pensar e os seus outros relacionamentos. Acho
que isso iria torná-lo mais humano aos nossos olhos e um personagem mais
complexo. Algo que pra Cinema é sempre mais interessante do que figuras
unidimensionais e superficiais. O filme mostra seus pais e irmã, mas de forma
sempre rápida de sem se aprofundar muito.
O seu interesse amoroso por
Flavio, um dos membros do Aborto elétrico
é retratado de forma burocrática e covarde. Assim como a homossexualidade de
Renato. Em momento nenhum ele aparece se relacionando de forma íntima com
homens, o que soa hipócrita, visto que a sua ligação com Ana sua amiga/namorada
é mostrada de forma natural. Nada mais normal do que retratar os seus primeiros
contatos sexuais com outros homens. Talvez seja um reflexo da Globo filmes. Mas
enfim...
Somos tão jovens é uma bela homenagem à banda Legião Urbana e ao
seu criador, mesmo que não seja um grande estudo de personagem e que só ajude a
mitificar o mesmo.
Nota: 7,0