O Poderoso Chefão Parte III (The Godfather Part III) – EUA – 1990
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola, baseado em livro de Mario Puzo
Essa terceira parte da mais famosa trilogia de Hollywood encerra com chave de ouro a saga da família siciliana Corleone, chefiada pelo desumano e complexo Michael Corleone (Al Pacino). Como disse no meu texto sobre o
primeiro filme, os três longas tratam da ascensão e queda de Michael, acompanhando sua trajetória desde o início, quando negava a sucessão dos “negócios" do pai Vito Corleone (Marlon Brando), depois quando assumiu os negócios da família e viu seus entes queridos sofrerem danos por causa da suas escolhas até esse terceiro longa, quando vemos Michael passar adiante a liderança da família e ao mesmo tempo, não conseguir se livrar do peso de ter vivido uma vida fora da lei.
No longa, muitos anos se passaram desde a
segunda parte. Michael agora é um senhor por volta dos seus sessenta anos que perdeu a sua esposa e o contato com seus filhos. Tenta abandonar todos os negócios ilícitos que mantinha até então e ser reconhecido pela Igreja, pois percebe que perdeu quase tudo com o que se importava na vida, está doente e carrega muitos “pecados” consigo. Uma guerra começa quando o impetuoso Vinni (Andy Garcia), seu sobrinho passa a trabalhar para Michael e entra em conflito com Zasa (Joe Mantegna) que domina as áreas da cidade onde uma vez Vito Corleone dominava. Recebendo um pedido de doação no valor de seiscentos milhões de dólares da Igreja, Michael exige o controle da empresa
Imobiliare, o que deixa alguns membros do clero contrariados por duvidarem da sua conduta.
Com a talento habitual, Al Pacino mais uma vez oferece uma performance memorável. Extremamente contido, porém muito expressivo, Michael explode algumas vezes, e então nós entendemos o perigo e a ameaça que ele representa para as pessoas ao seu redor, como sua esposa Kay (Diane Keaton) e filhos, principalmente. O momento de sua confissão com o bispo é extremamente tocante, porque pela primeira vez durante os três filmes, vemos Michael fragilizado, tanto fisicamente como emocionalmente. As demais atuações são brilhantes, como nos anteriores. A exceção fica por conta de Sophia Coppola, inexpressiva e sem carisma algum. Mas seu tropeço e falta de talento não prejudicam o resultado final do filme.
O roteiro e a direção brilhantes dão a mesma profundidade e intensidade dramática à saga dos Corleone que os capítulos anteriores possuem. Ver um ser humano perder sua humanidade é extremamente triste. E principalmente ver a sua vontade e tentativa frustrada de abandonar o crime e sua vida fora da lei com a frase “eu tento sair, mas isso vem até mim...”. Mais tocante ainda é ver Michael perceber os danos que causou e sua incapacidade de reparar. Mas por fim, ele oferece um relance de humanidade quando percebe que a carreira que seu filho escolheu, diferente da que gostaria, o faz feliz e agradece a Kay por tê-lo ajudado quando ele não pode. Somado a isso, existem outros arcos dramáticos, como o da irmã de Michael, Connie (Talia Shire) que acaba seguindo os passos do irmão e tantos outros personagens interessantes que povoam aquele mundo.
A direção de arte e os figurinos são perfeitos como sempre, dando um visual inconfundível ao filme, captados pela bela fotografia em tons amarelados, alaranjados e escuros. A trilha de Carmine Coppola pontua a trama com a eficiência dos longas anteriores, mostrando que a troca de compositores não prejudicou o resultado. Afinal de contas, o tema já estava composto. O trabalho foi apenas criar variações.
Destaque para a seqüência final na ópera, que faz contraponto à história narrada durante o filme e também ao que está acontecendo no momento. E o desfecho é angustiante, pessimista, e ao mesmo tempo nostálgico. Dá um aperto no coração quando vemos Michael jovem, no passado, dançando com Kay em momentos do
primeiro filme. Vem em nossa mente toda a sua trajetória e, principalmente, sua decadência. E a cena final amarra os três filmes de forma genial. Aliás, a trilogia é como se fosse um longo filme de nove horas de duração. As partes
II e III não foram forçadas. Elas são a seqüência lógica dos acontecimentos e exploram todas as possibilidades que a premissa oferecia.
Figurando entre uma das obras de arte mais elevadas do Cinema, a trilogia
O Poderoso Chefão é indispensável no repertório de qualquer um que se interesse por arte e, principalmente, pela Sétima.
Nota: 10