quarta-feira, 17 de março de 2010

O poder de uma história

Outro dia estava meditando sobre o poder das histórias nas sociedades humanas, por mais diferentes que sejam. Acabei chegando à conclusão de que isso daria um bom post para o blog. Primeiro, comecei a pensar num por que para a popularidade do Cinema e o fato de este ter se tornado uma indústria multimilionária ao redor do mundo. Cheguei à conclusão de que são as histórias. São elas que conectam as pessoas durante aquelas duas horas de projeção e fazem com que, na sala escura, não existam diferenças. Apenas seres humanos espectadores da mesma obra de arte e que estão sujeitos á emoções que podem ser ao mesmo tempo semelhantes ou bruscamente diferentes, dependendo da subjetividade do ponto de vista de cada um. Você se senta ao lado de um completo estranho, e naqueles momentos, todos são mergulhados nas emoções, idéias e conceitos passados pelo filme.

Retrocedendo um pouco e tirando o foco do Cinema, é possível analisar esse poder da história em outros contextos. Já li, por exemplo, que entre os índios brasileiros, toda a cultura, sabedoria popular e fatos são transmitidos verbalmente, devido à ausência de escrita, através de histórias e contos, que os mais velhos e vividos contam para os mais jovens com o intuito de passar sabedoria e toda a cultura de milênios de existência. Isso não ocorria apenas entre os índios brasileiros ou da América. Lembro-me de dezenas de histórias que meu avô a minha avó me contavam, ou mesmo meus pais, que ficaram marcadas em minha memória e fazem parte de quem em sou hoje.

Temos também toda a história escrita vinda de civilizações antigas, como a Mesopotâmia, Egito e outras que reforçam a importância de passar para as gerações futuras o conhecimento do presente, os registros escritos da Grécia antiga, berço da filosofia e do teatro no mundo. Só pra citar como exemplo, os diálogos de Platão. Existe também toda a monumental literatura da Europa desde os seus primórdios, com sua milenar cultura e escritores de ficção maravilhosos como William Shakespeare e suas peças de teatros geniais, Jane Austen com seus romances retratando o cotidiano de pessoas comuns da Inglaterra vitoriana, Julio Verne com seus livros de ficção científica avançados para sua época, etc, etc, etc... Tudo isso antes do advento do cinema no início do século XX...

Pois bem. Chegamos então à Sétima Arte. No início, os filmes eram basicamente curtas-metragens, mudos com a história contada através de legendas e o som feito através de um piano na sala de exibição ou até mesmo uma grande orquestra. Não demorou muito para o tamanho das películas passarem de curta para longa e o som ser introduzido. De lá pra cá, depois de um pouco mais de cem anos de história, houve grandes desenvolvimentos técnicos no Cinema, sejam na imagem (resolução, efeitos visuais e 3D) ou no som (mixagem e efeitos sonoros) que permitem que um diretor como James Cameron conte uma história que se passa em um mundo completamente novo e exótico em Avatar ou que outro diretor chamado Yojiro Takita conte uma história simples e extremamente profunda em A Partida. Mas uma coisa permanece: o uso artístico da linguagem cinematográfica para contar a história. Seja este uso feito através dos diálogos e a história que transcorre em si, ou aquele feito pelo uso das ferramentas não verbais de que o diretor dispõe como a direção de arte e composição de cenários, figurinos, trilha sonora, edição, movimentos de câmera e enquadramentos, atuação do elenco e tantas outras mais. Todas elas a favor do simples ato de contar a história para o expectador de forma que transmita a mensagem proposta e ainda seja um entretenimento agradável. É isso que o bom Cinema faz.

É óbvio que existem muitas porcarias medíocres no Cinema, na literatura e na TV, mas cabe a você, expectador e consumidor de todas essas mídias, escolher a dedo aquilo que você assiste ou lê. Não gaste seu tempo com lixo cultural sem qualidade artística ou sem profundidade emocional e de idéias. Porque, quando paro pra recordar, não me lembro do meu querido avô Zé contando nenhuma história que não valesse à pena ser ouvida.