Herói (Ying Xiong) – China – 2002
Direção: Zhang Yimou
Roteiro: Li Feng, Zhang Yimou e Wang Bin
Na China medieval, Qin (Daoming Chen), o soberano da província do Norte, tem o sonho de unificar toda a China em um grande império. Com quase todas as províncias conquistadas através de muitas batalhas e derramamento de sangue, Qin fez muitos inimigos, dos quais três são os mais preocupantes: o casal Espada quebrada (Tony Leung) e Neve voadora (Maggie Cheung) que já invadiram o palácio uma vez e não concretizaram seu plano e Céu (Donnie Yen). Certo dia surge um Guerreiro sem nome (Jet Li) em seu palácio carregando as espadas dos três assassinos alegando tê-los matado, o que dá direito a ficar a dez passos do rei. Acompanhamos a trajetória do Guerreiro sem nome através de flashbacks narrados por ele mesmo ao soberano Qin, e depois também pelo próprio soberano, quando este descobre que os propósitos do Guerreiro sem nome não eram o que aparentavam.
O chinês Zhang Yimou conta a história de seu país com seu roteiro próprio desenvolvido em cerca de cinco anos. E tanto trabalho não foi em vão. A história é arrebatadora do começo ao fim. Poderia ser mais um filme de artes marciais genérico, mas ele mostra estilo ao lidar com o gênero wuxia pian. As lutas são elegantes e envolventes. Em cada uma delas, os envolvidos tem motivações pessoais ou ideais diferentes, e isso fica muito claro para o espectador. Quando vemos dois personagens lutando, sabemos o porquê da luta e o que levou cada um a estar ali. Aliás, os valores de coragem, honra, lealdade, justiça e amor estão presentes em todos os momentos. Nunca, nenhum dos personagens por algum momento deixa de seguí-los, e quando isso se apresenta na narrativa, é prontamente desmascarado.
E a parte técnica da direção de Yimou é nada menos do que brilhante. Ele abusa de elegantes câmeras altas total durante as lutas, como no duelo na floresta dourada e no palácio do soberano; e também de câmera baixa total na inesquecível cena do lago, em que os dois guerreiros exprimem sua dor através dos golpes em homenagem à guerreira morta. Usa também a câmera subjetiva que acompanha a chuva de flechas em direção à escola de caligrafia entrando pelo telhado com a flecha e acertando o seu alvo. Impressionante. Outro momento lindo é o traveling de 360 graus que Yimou faz ao redor de dois guerreiros duelando. Esse tipo de cuidado com a imagem, criatividade e genialidade seguem durante todo o filme. Cada cena tem sua particularidade. E cada vez que vejo o filme (já foram por volta de cinco), vejo algo diferente.
O que nos faz envolver com a história é a profundidade que o roteiro dá às motivações dos guerreiros, tornando fácil para o espectador se identificar com a história, mesmo se passando a milênios atrás e numa terra tão distante. Os quatro assassinos querem matar o soberano Qin por vingança. Lua segue se mestre Espada quebrada por admiração e amor. E o soberano Qin deseja unificar seu país e trazer paz para o povo, mesmo que seja a custo de uma guerra.
O aspecto mais poético e filosófico do longa reside na associação da esgrima com a caligrafia. A habilidade com a espada está diretamente ligada à habilidade com a escrita. E se o Guerreiro sem nome erra por achar que a caligrafia de Espada quebrada iria revelar o segredo de sua habilidade para a luta, ele entende que ela revela o segredo das motivações do seu coração. E quando por fim ele escreve “nossa terra” para Sem nome, torna-se completamente plausível a sua hesitação diante do soberano três anos atrás. Falas como “a dor de um homem é insignificante diante do sofrimento de todos” faz com que o filme deixe de ser um filme de artes marciais comum para se tornar uma obra prima.
As atuações são impecáveis, com destaque para Daoming Chen como o soberano Qin, sábio, impassivo e forte. O romance entre Espada quebrada e Neve voadora é tocante por causa do carisma e química entre Leung e Cheung. Jet Li encarna o Guerreiro sem nome com o talento habitual para filmes do gênero. É claro que seu talento para a luta se sobressai diante das partes mais dramáticas.
A trilha sonora é inesquecível. Abusa dos violinos solo, viola e violoncelo em uma melodia marcante que evoca todo o clima de heroísmo e abdicação dos personagens. E por vezes, escutamos uma voz feminina solo terna ou um coral masculino em momentos tensos. A música é um show aparte. Destaque para a fotografia maravilhosa que abusa das cores primárias, o que faz da imagem algo marcante, e ilumina bem os cenários e locações, realçando a beleza dos figurinos, a direção de arte na composição dos cenários (a escola de caligrafia, a casa de banhos, o palácio real, etc) e as locações esplêndidas no deserto, na floresta dourada, no lago, entre outras.
Herói é um filme inesquecível que está na minha lista de melhores de todos os tempos. Esse texto nada mais é do que minha homenagem a esta obra de arte, que além de ser visualmente bela, é impactante emocionalmente e traz conceitos de honra, paz (acredite) e de valor a “nossa terra” que estão em falta nos dias de hoje.
Nota: 10
Direção: Zhang Yimou
Roteiro: Li Feng, Zhang Yimou e Wang Bin
Na China medieval, Qin (Daoming Chen), o soberano da província do Norte, tem o sonho de unificar toda a China em um grande império. Com quase todas as províncias conquistadas através de muitas batalhas e derramamento de sangue, Qin fez muitos inimigos, dos quais três são os mais preocupantes: o casal Espada quebrada (Tony Leung) e Neve voadora (Maggie Cheung) que já invadiram o palácio uma vez e não concretizaram seu plano e Céu (Donnie Yen). Certo dia surge um Guerreiro sem nome (Jet Li) em seu palácio carregando as espadas dos três assassinos alegando tê-los matado, o que dá direito a ficar a dez passos do rei. Acompanhamos a trajetória do Guerreiro sem nome através de flashbacks narrados por ele mesmo ao soberano Qin, e depois também pelo próprio soberano, quando este descobre que os propósitos do Guerreiro sem nome não eram o que aparentavam.
O chinês Zhang Yimou conta a história de seu país com seu roteiro próprio desenvolvido em cerca de cinco anos. E tanto trabalho não foi em vão. A história é arrebatadora do começo ao fim. Poderia ser mais um filme de artes marciais genérico, mas ele mostra estilo ao lidar com o gênero wuxia pian. As lutas são elegantes e envolventes. Em cada uma delas, os envolvidos tem motivações pessoais ou ideais diferentes, e isso fica muito claro para o espectador. Quando vemos dois personagens lutando, sabemos o porquê da luta e o que levou cada um a estar ali. Aliás, os valores de coragem, honra, lealdade, justiça e amor estão presentes em todos os momentos. Nunca, nenhum dos personagens por algum momento deixa de seguí-los, e quando isso se apresenta na narrativa, é prontamente desmascarado.
E a parte técnica da direção de Yimou é nada menos do que brilhante. Ele abusa de elegantes câmeras altas total durante as lutas, como no duelo na floresta dourada e no palácio do soberano; e também de câmera baixa total na inesquecível cena do lago, em que os dois guerreiros exprimem sua dor através dos golpes em homenagem à guerreira morta. Usa também a câmera subjetiva que acompanha a chuva de flechas em direção à escola de caligrafia entrando pelo telhado com a flecha e acertando o seu alvo. Impressionante. Outro momento lindo é o traveling de 360 graus que Yimou faz ao redor de dois guerreiros duelando. Esse tipo de cuidado com a imagem, criatividade e genialidade seguem durante todo o filme. Cada cena tem sua particularidade. E cada vez que vejo o filme (já foram por volta de cinco), vejo algo diferente.
O que nos faz envolver com a história é a profundidade que o roteiro dá às motivações dos guerreiros, tornando fácil para o espectador se identificar com a história, mesmo se passando a milênios atrás e numa terra tão distante. Os quatro assassinos querem matar o soberano Qin por vingança. Lua segue se mestre Espada quebrada por admiração e amor. E o soberano Qin deseja unificar seu país e trazer paz para o povo, mesmo que seja a custo de uma guerra.
O aspecto mais poético e filosófico do longa reside na associação da esgrima com a caligrafia. A habilidade com a espada está diretamente ligada à habilidade com a escrita. E se o Guerreiro sem nome erra por achar que a caligrafia de Espada quebrada iria revelar o segredo de sua habilidade para a luta, ele entende que ela revela o segredo das motivações do seu coração. E quando por fim ele escreve “nossa terra” para Sem nome, torna-se completamente plausível a sua hesitação diante do soberano três anos atrás. Falas como “a dor de um homem é insignificante diante do sofrimento de todos” faz com que o filme deixe de ser um filme de artes marciais comum para se tornar uma obra prima.
As atuações são impecáveis, com destaque para Daoming Chen como o soberano Qin, sábio, impassivo e forte. O romance entre Espada quebrada e Neve voadora é tocante por causa do carisma e química entre Leung e Cheung. Jet Li encarna o Guerreiro sem nome com o talento habitual para filmes do gênero. É claro que seu talento para a luta se sobressai diante das partes mais dramáticas.
A trilha sonora é inesquecível. Abusa dos violinos solo, viola e violoncelo em uma melodia marcante que evoca todo o clima de heroísmo e abdicação dos personagens. E por vezes, escutamos uma voz feminina solo terna ou um coral masculino em momentos tensos. A música é um show aparte. Destaque para a fotografia maravilhosa que abusa das cores primárias, o que faz da imagem algo marcante, e ilumina bem os cenários e locações, realçando a beleza dos figurinos, a direção de arte na composição dos cenários (a escola de caligrafia, a casa de banhos, o palácio real, etc) e as locações esplêndidas no deserto, na floresta dourada, no lago, entre outras.
Herói é um filme inesquecível que está na minha lista de melhores de todos os tempos. Esse texto nada mais é do que minha homenagem a esta obra de arte, que além de ser visualmente bela, é impactante emocionalmente e traz conceitos de honra, paz (acredite) e de valor a “nossa terra” que estão em falta nos dias de hoje.
Nota: 10