Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Laeta Kalogridis, baseado no livro de Dennis Lehane
Que Martin Scorsese é um gênio do Cinema todo cinéfilo já sabe. Que ele faz ótimos filmes de mafiosos e seus conflitos entre vida pessoal, moral e crime, mergulhando na mente de seus personagens todo mundo já sabe também - vide Os infiltrados, Os bons companheiros, Cassino, Gangs de Nova York. Mas nesse Ilha do medo ele vai mais fundo ainda na psicologia e devaneios de Teddy (Leonardo DiCaprio). Teddy é um detetive da polícia que junto com seu parceiro Chuck (Mark Ruffalo) se encaminha para Shutler Island do título, uma instituição para tratamento de criminosos com distúrbios mentais, para investigar o desaparecimento de uma paciente considerada muito perigosa por ter matado os seus três filhos afogados no lago perto de sua casa e não admitir o fato até os dias atuais. Teddy começa a enfrentar a oposição do diretor da clínica à investigação e de seu misterioso psicólogo ao mesmo tempo em que vai descobrindo os segredos que cada um dos personagens esconde. Aliás, os quadjuvantes no filme dão um show à parte. Cada personagem tem sua personalidade marcante e as performances são, mesmo que dispondo de pouco tempo em tela, formidáveis. Capturam a nossa atenção e marcam. Destaque para o sempre talentoso Ben Kingsley, o carismático e simpático Chuck, interpretado pelo ótimo Mark Ruffalo (sou fã do cara), Michele Williams sempre intensa e todos os doentes mentais da instituição, que escondem segredos e crimes horríveis por trás de seu desequilíbrio. Isso nos leva à performance irretocável de DiCaprio, que já começa o filme dizendo “se recomponha, Teddy” para si mesmo no sombrio navio que ruma para Shutler Island. A confusão do personagem ao longo do filme é mostrada com virtuosismo pelo ator, e pelo roteiro obviamente, de forma progressiva e através de detalhes, como tiques nervosos, respiração ofegante, etc. As seqüências dos sonhos/devaneios de Teddy são perfeitas em intensidade dramática e uso da linguagem cinematográfica, que é quando Scorsese adiciona elementos caindo no meio da cena, como cinza, papel e goteiras, mostrando a instabilidade emocional e mental do detetive. As cenas do fim da Segunda Guerra Mundial que retratam o holocausto são simplesmente impressionantes. E é nesse ponto que a fotografia se mostra genial porque sabemos exatamente onde começam os sonhos e lembranças de Teddy, simplesmente pelo visual do que estamos vendo e pelo maravilhoso design de produção, e é claro, pela narrativa. Outro ponto alto do filme é a montagem, feita por Thelma Schoonma, usual colaboradora de Scorsese, usando às vezes cortes secos que mostram ainda mais a confusão do personagem central, e no restante do longa é eficiente como de costume. A ótima trilha sonora me lembrou um pouco a dos filmes do mestre do suspense Alfred Hitchcock, fazendo uso de cordas graves ou agudas, altamente expressivas que ajudam a criar o clima de suspense e tensão da história. A direção de Scorsese é genial. Alguns reclamaram da falta de identificação do público com os personagens, alegando que Scorsese só sabe mesmo falar do mundo da máfia, mas eu discordo. Ilha do medo é o mais novo clássico do mestre e vai ser lembrado por muito tempo. Apesar do nome, não se assemelha a outro longa do diretor, Cabo do medo, mas sim a outro clássico do suspense, O Iluminado de Stanley Kubrick. Com um desfecho angustiante e surpreendente, Ilha do medo ecoa na mente do espectador muito tempo depois de terminada a sessão.