Billy Elliot (Idem) – França/Reino Unido – 2000
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: Lee Hall
Uma ode à Arte. É assim que eu defino esse maravilhoso Billy Elliot. O longa conta a historia do garotinho Billy (Jamie Bell), que mora no interior do Reino Unido com seu pai, seu irmão e sua avó bastante idosa e doente. Seu pai e seu irmão são mineiros e passam por uma crise pelo fato de o sindicato estar em greve e eles não terem quase nenhum dinheiro para manter a casa. O pai de Billy, Jackie (Gary Lewis) se esforça para dar cinqüenta centavos para seu filho todos os dias para ele ter a chance de praticar boxe. O que ele não sabe é que seu filho começou a se interessar por balé, quando as meninas tiveram que dividir o mesmo espaço que os garotos, e que ele de fato tem talento. Quando Jackie descobre, fica revoltado e o proíbe de dançar. Billy, apaixonado pela dança, pratica escondido na casa da professora Mrs. Wilkinson (Julie Walters) que tenta arranjar uma audição para Billy em uma grande escola de bale de Londres.
Já nos momentos iniciais, Daldry mostra a paixão de Billy pela dança, com o garoto pulando em sua casa ao som de uma música que ele gosta. Billy não tinha técnica nenhuma, mas o amor por expressar sentimentos com seu corpo estava lá. Como um diamante não lapidado. Quando ele tem a oportunidade de participar da aula da Mrs. Wilkinsonm fica claro que ele mesmo ainda tinha algum preconceito pelo fato de ele ser um menino e estar fazendo balé entra as meninas, mas fica ainda mais claro que ele achou incrível estar dançando e fazendo aquilo em uma aula, como ele fazia nas suas intermináveis sessões de boxe.
O boxe e o balé servem de contraponto para a relação que guia o filme, que é de Billy e seu pai. Sem quase nenhuma instrução e conhecimento de arte, e muito menos dança, Jackie fica revoltado quando descobre que seu filho vem matando as aulas de boxe para praticar balé, e sua primeira reação é perguntar se ele é gay. Depois é proibi-lo de continuar freqüentando as aulas. O normal era que o achássemos Jackie um monstro por proibir seu filho de fazer o que amava, e é exatamente ódio que Billy sente dele naquele momento, mas por conhecer o personagem e saber de suas limitações, sabemos que ele faz aquilo por amar seu filho e julgar estar fazendo o melhor pra ele.
Outro relacionamento que também é vital para o filme é o de Billy com Mrs. Wilkinson, sua professora de balé. Ela vê no garoto um talento e decide investir nele. A performance de Julie Walters é extremamente contida e sem exageros de expressão, mas nem por isso menos expressiva e honesta. Quando ela olha Billy e vê que ele está desenvolvendo sua arte, dá pra ver sua satisfação somente pelo brilho se seus olhos. E pode ser loucura minha ir tão longe, mas ainda consegui ver um certo tom de frustração em seus atos, uma amargura por ela não ter sido aquilo que poderia ser um dia. Mas isso não é abordado pelo filme.
Isso nos leva a performance de Jamie Bell, que mesmo tão jovem, vive Billy com tanta intensidade e talento, que merecia uma indicação ao Oscar, ao meu ver; além da mais do que justa indicação de Julie Walters como quadjuvante. No momento em que a banca examinadora pergunta a Billy o que ele sente quando dança, a resposta que ele dá é um dos momentos mais emocionantes do filme, no qual eu não contive as lágrimas.
A subtrama envolvendo a greve dos mineiros é de extrema importância porque serve para mostrar o amadurecimento de Jackie em relação a Billy e sua arte. Quando ele toma certa decisão durante o filme, por um lado ele é a decepção para seu filho mais velho que é mineiro, mas por outro, ele entendeu que tinha que dar a Billy uma chance de ser algo diferente dele e de seu irmão.
Billy Elliot tinha uma premissa que poderia levar o longa a ser uma sucessão de clichês, como Burlesque. “Garota sai da cidade do interior para tentar a fama na cidade grande e enfrenta dificuldades”. Aqui seria “garoto pobre sonha em ser bailarino, mas é reprimido pelo pai machista”. Mas felizmente não é. Daldry vai fundo na mente de seus personagens e conta uma história importante. Afinal de contas, qual a importância da arte? Porque não seguir uma carreira mais “útil” e menos lúdica? Porque um artista gasta tanto de seu tempo e seu esforço para fazer algo que tenha alguma importânica? As respostas são apresentadas na conclusão do filme de forma genial. Jackie e seu filho mais velho se juntam a um velho amigo de Billy e seu namorado para presenciar a arte em sua melhor forma.
No fim do filme, o meu olhar era exatamente igual ao do pai de Billy ao assistir ao filho dançar.