Direção: Joe Wright
Roteiro: David Farr
Com uma carreira ligeiramente em declínio, Joe Wright estreou no Cinema com o ótimo Orgulho e Preconceito seguido do maravilhoso Desejo e Reparação. Depois lançou o fraco e forçado O solista e agora decepciona mais uma vez com esse Hanna, saindo do campo do drama e se enveredando na ação e um pouco na ficção científica. E é exatamente esse um dos problemas de Hanna: o filme nunca se decide o que é. Às vezes parece adaptação de uma grafic novel, às vezes pende para o drama, às vezes para a ação e o suspense, e flerta até com a comédia em algumas cenas. Essa falta de coesão faz com que assistir ao filme seja uma experiência curiosa por um lado e decepcionante por outro, porque eu esperava mais do diretor de dois filmes que admiro tanto.
Hanna (Saoirse Ronan) é uma adolescente de quinze anos que foi criada pelo pai Erik (Eric Bana) na floresta para ser uma verdadeira máquina de matar. Sabe lutar, usar várias armas e falar diversos idiomas. O motivo disso não sabemos durante boa parte do longa. Eles vivem em harmonia assim até o dia em que Hanna decide disparar o dispositivo que irá trazer até ela aqueles que nem ela mesma sabia, mas que eram o motivo de toda a sua preparação pelo seu pai. Capturada pelos “agentes” ela entra então num jogo de gato e rato, no qual ela é o alvo e todos da agência querem matá-la, liderados por Marissa (Cate Blanchett). Além disso, Hanna tenta encontrar o seu pai que fugiu para salvar sua própria vida e descobrir quem ela de fato é.
Saoirse Ronan já mostrou que é atriz talentosa, mesmo tão jovem. Mas ela pouco pode fazer com a sua personagem rasa e sem profundidade. A premissa era bastante rica na verdade, mas o roteiro não é nada além de uma promessa não cumprida. A relação com seu pai, que deveria ser o foco da narrativa, é mal desenvolvida e é abandonada durante o filme. Apesar de Bana ser um ator talentoso e Cate Blanchett dispensa comentários, os dois estão no mesmo caso de Ronan. Seus personagens são unidimensionais, sem ter nenhuma faceta diferente daquela que aparentam ter. Erik é o pai dedicado e Marissa a profissional fria e inescrupulosa. O filme é um verdadeiro desperdício de elenco.
Vejo os problemas no roteiro e não na direção de Wright (pelo menos quero acreditar). Quando ele tem a chance de mostrar seu talento, ele surpreende. Mesmo nunca tendo feito filmes de ação, dirigiu as sequências com muita criatividade e energia. Duas se destacam. O momento em que Erik é perseguido pelos oficiais na rua e desce para uma estação de metrô onde a briga acontece. Ele é seguido pela câmera de Wright sem cortes num ótimo plano sequência. A luta é coreografada de forma impecável. Erik luta contra seis homens (eu acho) ao mesmo tempo, e a luta em momento nenhum soa falsa, risco que havia por não haver cortes: os chutes e socos poderiam parecer pouco convincentes. E esse estilo de filmar com planos sem cortes já mostrado em seus outros três filmes não é gratuito aqui, porque criou uma tensão muito maior na cena do que ela teria caso fosse filmada convencionalmente com os cortes e edição. A outra sequência é a genial perseguição de Hanna pelos agentes entre os contêineres no porto. Wright mostrou que sabe dirigir ação e criar suspense. Pena que ele tinha um roteiro pedestre nas mãos.
Dario Marianelli foi o seu colaborador habitual nos outros três longas para a composição da trilha sonora. Nesse a trilha foi composta não por ele, mas por uma banda que opta pelo pop rock e rock nas cenas de ação, algo como feito em Matrix. Pareceu falta de criatividade e originalidade. Talvez uma trilha orquestrada fosse mais adequada, porém, mais uma vez Wright não decidiu o que fazer com o filme e que forma dar, por isso esse resultado irregular.
Se você quer assistir a um filme de ação que possa entreter por duas horas, pode assistir Hanna, mas se procura algo mais do que isso, não perca seu tempo.
Espero que Joe Wright volte a adaptar algum bom romance ou escolha melhor os roteiros para filmar. Um diretor talentoso não pode ser desperdiçado com projetos ruins.
Nota: 6,5