A better life (Idem) – EUA
Direção: Chris Weitz
Roteiro: Eric Eason e Roger L. Smith
A Better life é a prova de que o roteiro cinematográfico é tão importante quanto à direção. Se isso não fosse verdade, seria impossível que o mesmo diretor que dirigiu o vergonhoso Lua Nova (New Moon – 2009) fosse responsável por esse ótimo A better life. É calor que o diretor pode ter amadurecido e aprendido com o tempo e experiência, mas não foi o caso, visto que Lua nova é do recente ano de 2009. O roteiro de A better life é de fato muito sólido, os personagens são bem definidos e a história sabe aonde quer chegar e o que quer provar para a audiência. A direção de Chris Weitz simplesmente pega o material original e transforma num filme tocante.
Carlos Galindo (Demián Bichir) é um imigrante mexicano que vive ilegalmente nos Estados Unidos com seu filho. Ele trabalha para outro compatriota mexicano prestando serviços de jardinagem. Quando seu chefe consegue juntar dinheiro suficiente para voltar para seu país, Carlos decide pegar dinheiro emprestado com sua irmã para comprar a caminhonete de seu chefe. A caminhonete é roubada; ele tenta recuperá-la ao mesmo tempo em que tem que lidar com seu filho rebelde prestes a entrar para a gang local e ainda tenta escapar da Polícia dos Estados Unidos para não ser deportado, e se ver obrigado a viver longe de seu filho.
Com essa premissa que poderia levar o filme a ser um dramalhão digno de uma novela mexicana, Weitz escapa disso e adota a sensibilidade como guia para contar sua história. Desde os primeiro momentos vamos tomando conhecimento da rotina de Carlos no trabalho e seu relacionamento complicado com seu filho; tudo com pequenos acontecimentos e poucos diálogos. Para isso, o desempenho de Demián Bichir e José Julián como seu filho são incríveis e imprescindíveis. O primeiro consegue mostrar que cada coisa que faz durante o seu dia é dedicada ao seu objetivo de dar uma vida melhor ao sue filho. Mas ao mesmo tempo todo o seu esforço de trabalhar muitas horas por dia o faz passar pouco tempo ao lado do garoto, o que nos leva a performance de José Julián. O garoto Luiz vivido por ele é irritante na maior parte do tempo por causa do seu desprezo com o pai e sua tendência à rebeldia e criminalidade. É muito claro para todos nós, expectadores da história, que tudo que Carlos fazia era para o bem de seu filho, menos para o próprio garoto. Mas ele não é só um adolescente rebelde sem causa. Ao longo da projeção percebemos que o que Luiz queria era passar tempo com seu pai assim como eles passavam em sua infância e ter um pouco de sua atenção. Na conversa final do terceiro ato do longa isso fica bem claro. Senti-me muito tocado. Fez-me pensar que quase todos os pais são assim: mesmo cometendo erros, como qualquer ser humano, no fundo eles sempre querem o melhor para seus filhos.
Outro momento que me tocou muito foi quando Luiz pergunta a seu pai durante uma feira frequentada por mexicanos “por que todas essas pessoas pobres e imigrantes ilegais têm filhos?”. O olhar de decepção e mágoa nos olhos de Carlos expressam tudo o que ele sentia. Mais tarde ele tem a oportunidade de explicar a Luiz o seu motivo de ter um filho.
A trilha sonora do sempre talentoso Alexandre Desplat pontua a história de forma discreta e bem colocada. A música não chama atenção para si, como em muitas produções, mas está ali, nos momentos certos na medida certa.
A better life faz com que aqueles que assistiram à história de Carlos e Luiz em forma de arte passem a olhar o mundo e as pessoas de forma um pouco diferente. Afinal, não é esse o objetivo de toda arte?