Cavalo de Guerra (War Horse) – EUA/Reino Unido – 2011
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Lee Hall e Richard Curtis, baseado no livro homônimo de Michael Morpurgo
Quem bom que no ano passado Spielberg lançou o ótimo As aventuras de TinTim, porque se seu prestígio como artista dependesse somente desse fraco Cavalo de Guerra, ele estaria seriamente comprometido. O diretor apostou todas as suas fichas no seu drama de guerra, visto que das duas últimas vezes em que fez isso com A lista de Schindler e O regate do soldado Ryan, foi bem sucedido com o público, crítica e premiações (dois Oscar’s de melhor diretor).
Cavalo de Guerra conta a história do cavalo do título, Joey, que é comprado num momento de insanidade por Ted Narracott (Peter Mullan) um fazendeiro alcoólatra. Seu filho Albert (Jeremy Irvine) se encanta pelo cavalo desde o primeiro momento que o vê. Ele passa a se dedicar a cuidar do animal e ensiná-lo a arar a terra para tentar salvar a fazenda do seu pai e o futuro de sua família, mesmo Joey não sendo apropriado para o serviço. Com a plantação arruinada por uma tempestade, Ted é obrigado a vender o cavalo para que este seja usado na Primeira Guerra que acaba de começar. Albert promete a Joey que irá procura-lo e trazê-lo de volta para casa. É aí então que acompanhamos a história de Joey e os vários donos por quem ele passa e seus infortúnios durante a guerra.
Centrar a narrativa em um animal é algo perigoso. Animais são inexpressivos e não falam. Quando o roteiro é raso e a direção de Spielberg é genérica o resultado é pior ainda. Um dos maiores erros que um diretor pode cometer, e que Spielberg tem a ligeira tendência a fazer, é tentar manipular a audiência. Se uma história emociona, faz rir ou assusta, isso tem que acontecer de forma honesta e porque a história possui essa força naturalmente e os elementos do filme (direção, atuação, etc) possuem autenticidade. Spielberg tenta fazer o expectador vir às lágrimas o tempo todo, com cenas que às vezes beiram o melodrama. E é aí que a trilha de John William colabora para o fracasso. Ele tenta criar temas engraçadinhos ou dramáticos de forma completamente forçada. Fiquei me perguntando onde estava o gênio que criou os temas de Star Wars, Indiana Jones, Contatos imediatos de Terceiro Grau, Memórias de uma Gueixa, Harry Potter, Star Wars e de tantos outros filmes? Cavalo de guerra não possui uma única melodia marcante, apenas algumas que chegam a irritar.
Mesmo sendo irregular, consegui me envolver em alguns momentos da história, principalmente no terceiro ato do longa, afinal Spielberg não é qualquer diretor. Um momento específico envolvendo uma cerca me tirou o fôlego. Elogios devem ser dados à parte técnica do longa. A fotografia é linda e tem função na narrativa, o que é mais importante. São extremamente diferentes os momentos cheios de cores vivas que mostram Albert feliz em sua fazenda com seu cavalo e os momentos quase sem cor alguma na Guerra, dentro das trincheiras e nos momentos de batalha. A direção de arte recria a Inglaterra da década de 10 de forma impressionante.
Como a maioria de filmes como animais, Spielberg não conseguiu escapar do vício de criar cenas nas quais a câmera mostra a reação “engraçadinha” dos animais à determinadas gags cômicas, coisa que me incomoda profundamente. O filme não exigia tal coisa, sendo mais coerente em uma comédia pastelão. Pense que se talvez o roteiro se concentrasse em Albert e sua busca pelo seu cavalo durante a Guerra, a história seria mais interessante. Acompanhar Joey e seus vários donos assumiu um caráter episódico, o que para um filme é fatal. E os donos de Joey não passam de caricaturas, não seres humanos com personalidade e complexidade. Isto é claro devido à falta de tempo para desenvolvê-los. A amizade de Joey e outro cavalo que se tornou seu “companheiro” não convence muito. Porque afinal de contas uma amizade do tipo como foi retratada (entre dois animais) todos sabem que é impossível de acontecer, por mais valoroso que seja o cavalo. E nem o enorme afeto de Albert por seu cavalo fica muito bem explicado pra mim. Mesmo amando a animal, não vejo tantos motivos para ele ter levado sua busca até as últimas consequências.
No fim, fazendo uma referência vazia e desnecessária à E o vento levou, Spielberg tenta sua última cartada em fazer o público chorar. Comigo não funcionou.