segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quarto do Pânico (Panic Room)

Quarto do Pânico (Panic Room) – EUA – 2002

Direção: David Fincher

Roteiro: David Koepp

Já nos momentos iniciais de Quarto do Pânico, somos apresentados à Meg Altamn (Jodie Foster) e sua filha visitando uma casa com um corretor de imóveis. Falando das características da casa e principalmente de um muito incomum quarto do pânico que esta possui, somos apresentados à dupla mãe e filha, conhecemos bastante da dinâmica entre as duas e o porque de estarem procurando uma nova casa: o divórcio recente. Já nesses breves momentos, David Fincher já estabelece a lógica da narrativa com muito talento, apresentando os personagens e criando uma aura de tensão que dura durante todo o longa. Exemplo disso é a tensão que Meg sente quando o corretor tranca a porta do quarto do pânico.

Logo no sua primeira noite na nova residência juntas, a casa é invadida por três assaltantes que planejam roubar os três milhões de dólares que estão no cofre. O que eles não sabem é que a casa agora é habitada (por um cálculo de dias mal feito pelo estúpido Junior) e que eles têm que lidar com a presença da mãe e da filha, que se trancaram no quarto que oferece toda a segurança exatamente para a situação em que elas se encontram. O problema é que eles não podem ir embora porque já foram gravados pelas câmeras de segurança e nem podem roubar o que há no cofre.

Com essa situação caótica, Fincher cria um verdadeiro suspense Hitchcockiano, com uma tensão que paira no ar o tempo todo e chega a ser quase insuportável ao longo do filme. E isso graças ao roteiro eficiente de Koepp, às ótimas atuações de Foster e Forrest Whitaker, à trilha sonora precisa de Howard Shore e, principalmente, à direção brilhante de Fincher.

Ele tem um extremo cuidado com o visual de seu filme, fazendo com que qualquer expectador perceba que cada sequência foi detalhadamente pensada em cada frame. Ele usa ângulos e movimentos de câmera sempre impressionantes, mas que nunca deixam de exercer uma função na narrativa, que no caso é criar tensão. Não me esqueço do genial plano sequência que mostra o quarto de Meg no terceiro andar enquanto essa dorme. A câmera sai do quarto, desce em meio às escadas, passa pelos cômodos do pavimento térreo da casa (inclusive dentro da alça de uma caneca na cozinha!) e mostra os assaltantes do lado de fora da casa tentando entrar. É claro que a sequencia é realizada com a ajuda de efeitos visuais, mas esses não tiram o brilhantismo da ideia. Existe outro plano sequência também incrível que acompanha o gás passando dentro de uma mangueira até chegar dentro do quarto do pânico. E também mais um que mostra mãe e filha dentro do quarto gritando através de um buraco no chão para tentarem se fazer ouvidas pelo vizinho. A câmera vai se afastando do buraco em direção à casa vizinha enquanto ouvimos o som da tempestade abafar os gritos. Lembrou-me um pouco um plano sequência parecido que Hitchcock criou em Frenesi, para mostrar um assassinato sendo cometido em um apartamento, ao mesmo tempo em que do lado de fora, pessoas vivem suas vidas numa rua movimentada sem ter a menor consciência do que acontecia.

Outro recurso usado com perfeição é a câmera lenta. Enquanto uns usam a cada minuto para mostrar detalhes às vezes desnecessários e para simplesmente mostrar “estilo” como Zack Snyder (não que eu não goste do diretor), Fincher usa em um único momento para criar uma tensão enorme. Meg sai do quarto para pegar o seu celular enquanto os ladrões estão no andar de baixo e podem vir a qualquer momento. A quase ausência de qualquer som e a câmera lenta são a soma perfeita para fazer o expectador literalmente segurar seu fôlego até o fim da cena.

Quem conhece a filmografia de Fincher sabe que ele não usa esse tipo de recurso gratuitamente em seus filmes, como muitos diretores fazem. Sempre há um propósito na narrativa, seja para ajudar a contar a sua história com o seu estilo, criar tensão, como nesse caso, desenvolver um personagem, etc. E é claro que a direção de Fincer é ajudada pelo ótimo roteiro de Koepp. Com duas frases ele definiu as motivações de dois ladrões. Um queria o dinheiro. O outro precisava do dinheiro. Pelas atuações, o expectador já imagina perfeitamente o porquê dos dois estrem ali.

Jodie Foster, como sempre, oferece uma performance intensa e emocional. Destaque também para Whitaker, que consegue criar um Burnham, que mesmo sendo ladrão e cometendo atos odiosos, não deixa de ser humano e digno de simpatia e pena. Infelizmente ele fez escolhas erradas que o levaram àquela situação.

O filme tem um desfecho lógico para cada personagem. E é ótimo ver, em apenas uma cena Fincher consegue fazer isso (spoiler), que mãe e filha se aproximaram depois de todo o ocorrido.

Quarto do Pânico é um suspense muito acima da média, que não pode faltar no repertório de conversas dos fãs do gênero.

Nota: 10