sexta-feira, 1 de julho de 2011

Na praia (On Chesil Beach)

Autor: Ian McEwan

Editora Companhia das letras, 2007, 128 páginas

Contando a história de um jovem casal, ambos virgens, em sua lua de mel em um hotel na praia, McEwan consegue captar o espírito social, político e comportamental de toda a geração de jovens da Europa no início da década de 60. Isso mostra sua competência enquanto autor, não só em contar uma boa e envolvente história sobre pessoas, mas em situar precisamente seus personagens no tempo e no espaço. E é o que toda boa ficção faz: é um retrato fiel de um período e uma época.

Edward é um jovem encantador e vivaz, recém formado em história e que mal pode esperar para começar sua vida conjugal com Florence, uma violinista sensível e bem nascida, por quem está apaixonado. O relacionamento dos dois é muito bem descrito e desenvolvido por McEwan. Mesmo com poucas páginas, ele consegue nos fazer sentir que conhecemos profundamente os dois e torcemos pela felicidade deles, tamanha é a empatia que criamos por eles e a qualidade que ele consegue na construção de seus personagens. O mesmo acontecia com Briony e também os outros personagens, com descrevi em meu texto sobre Reparação.

Os dois têm as mais altas expectativas sobre a noite de núpcias: Edward mal se contém para ter em seus braços a sua tão recatada noiva, por quem está muito apaixonado, mas que sempre reprimiu suas investidas em algo mais íntimo. Mas agora finalmente chegou o momento. Ele teme também se apressar demais em sua ânsia e acabar estragando tudo. Florence, com toda a sua inexperiência e seu medo do ato sexual, se sente pressionada por suas obrigações agora de esposa, não tem nenhuma experiência e nem deseja ter, mas ao mesmo tempo quer agradar seu noivo.

Com essa situação conflituosa, rica de facetas e muito interessante, McEwan faz o que ele sabe de melhor, que é descrever pensamentos e sentimentos dos seus personagens de forma profunda e com um estilo único, como um nunca vi nenhum autor fazer. E com isso, faz com que nos aproximemos tanto daquelas pessoas.

Através de “flashbacks”, que muitas vezes se passam na mente dos protagonistas ou mesmo contados pelo narrador, conhecemos um pouco do passado do relacionamento dos dois, de como se conheceram e toda a bagagem emocional que os dois carregam até culminar no ponto onde o livro de inicia, que é o casal já no hotel de sua lua de mel.

Usando o contraponto de seus personagens com personalidades bem diferentes, McEwan consegue situar a história, como já disse, com maestria. Ele usa o amor de Florence pela música erudita e o interesse de Edward em rock and roll para estabelecer o cenário artístico da época e a transição pela qual a sociedade passava, de algo mais clássico para o revolucionário; e como isso influenciava o comportamento das pessoas. Além do interesse musical de seus heróis, ele usa também a profissão de Edward (formado em história) para levantar discussões sobre o panorama político e social da época. Jogada de gênio. Além é claro dos conceitos, opiniões e sentimentos que passam pela mente dos dois, plausíveis para pessoas inseridas naquele contexto, mas que soariam pouco verdadeiras nos dias de hoje.

O final pode não agradar a muitos leitores, mas eu acho que é o desfecho perfeito diante de tudo que o autor vinha “defendendo” durante o livro. Outro desfecho mais fabulesco soaria falso de forçado. A sensação que tive é que ele descreve a morte de uma geração e o nascimento de outra.

Estou ansioso para ler mais livros de Ian McEwan.

Nota: 10