Texto postado por Elisabete com reflexões sobre a revolta das fãs à crítica de "Lua Nova", seqüência de "Crepúsculo". Infelizmente não tenho mais o link.
"O filme é ruim? É. Eu não vi, mas imagino que seja, por tudo que li até agora, por nota no IMDB, e por sexto sentido. Os livros da Meyer também são, mas claro que isso não impede de vender muito. Muitas coisas ruins vendem muito, até porque somos vítima da mídia de massa, e nossa sociedade está cheia de gente sem senso crítico; o produto ruim vende porque quem compra o quer assim, e por isso ele existe.
O que me espantou na verdade foi a histeria coletiva das meninas e o tom colérico e as mensagens de ódio com relação à crítica (ruim do filme). Só que depois de um tempo eu parei pra pensar. Acho que ninguém está parando para entender o porquê do fenômeno, e lendo algumas das mensagens das meninas nos fóruns, eu acabei fazendo a seguinte análise.
Crepúsculo é um romance, e realmente um tipo de Romeu e Julieta. É um romance emo (e emo remete literalmente à emoção), e emoção, nós sabemos, não é um sentimento bem trabalhado por ninguém hoje em dia. Essas meninas cresceram vendo bunda na TV, vendo uma hiperexploração do sexo até mesmo em idades inadequadas, e estiveram expostas precocemente ao cinismo de uma sociedade cada vez mais permissiva nos costumes ao mesmo tempo em que valoriza cada vez menos os sentimentos e sua expressão. O "movimento" emo não surgiu à toa. É preciso refletir sobre os porquês disso tudo.
Tenho 31 anos, sou médica, e adoro ler. Lembro que na minha época de adolescente esse tipo de histeria coletiva só acontecia em shows de mega ídolos, Madonna, Michael Jackson, gente desmaiando. O fato de a série crepúsculo conseguir gerar esse tipo de reação por si só já chama a atenção para o porquê disso ocorrer. Como disse uma das fãs no fórum já citado aqui, os livros fizeram com que ela acreditasse novamente no amor. Será que isso basta para justificar todo esse movimento? Fico pensando, talvez. Porque ao mesmo tempo em que nossas adolescentes são bombardeadas precocemente com repressão emocional, cinismo e bundas, é cobrado socialmente que elas acreditem no amor, na pureza, que só façam sexo com alguém que elas gostem. É cobrado que se casem e tenham uma relação até que a morte os separe. São chamadas de vagabundas se não seguem determinados padrões hipócritas. Deve ser um mundo difícil de viver. Ainda mais quando se tem 12, 15 anos, e não se entende nada da vida.
Além disso, o que as meninas têm feito é um típico movimento de rebanho. É irracional, coisa de matilha, e vemos esse mesmo movimento nos estádios de futebol, só que os gritos dos homens não são tão agudos. Tem gente que literalmente mata e morre por um time, e não existe argumento que mude isso. É irracional, é catarse, e eu enxergo como o mesmo movimento que está acontecendo ao redor da série Crepúsculo.
Não adianta argumentar; as fãs não têm a maturidade exigida para entender a crítica do Pablo (Vilaça), como ainda não têm a educação necessária nem para escrever corretamente, nem raciocinar logicamente ou argumentar corretamente. Lembrem que estamos num momento em que não se valoriza livros nem leitura, as pessoas escrevem cada vez menos, de forma cada vez mais abreviada, e há correntes que pensam que o próprio raciocínio humano ficará assim, cada vez mais telegráfico, conseqüência dos novos meios de comunicação.
A histeria de Crepúsculo me lembra muito a histeria dos alunos da Uniban, guardadas as devidas proporções, e penso que deve ser visto como um fenômeno digno de análise e não apenas de revolta crua e sem repercussão. Não consigo ver as meninas como vilãs ou criminosas. Apenas como vítimas de uma conjuntura ampla.”